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A mulher pode pregar? Minha opinião sobre o tema


INTRODUÇÃO:

   A questão da participação feminina na pregação e no ensino dentro das comunidades cristãs é um dos debates mais polarizados da teologia contemporânea. Faremos uma análise sobre a permissibilidade do ensino e da pregação por mulheres, diferenciando o ato de ensinar do exercício de autoridade. Argumenta-se que, com base nas Escrituras, o ensino não implica necessariamente autoridade eclesiástica formal, e que diversas passagens bíblicas corroboram a capacidade e o dever das mulheres de transmitir conhecimento bíblico. A discussão aborda interpretações comuns de textos como 1 Timóteo 2:11-15 e 1 Coríntios 14:34-35, propondo que estas restrições são contextuais e não proíbem o ensino feminino em geral.

DESENVOLVIMENTO:

O Conceito de Ensino e Autoridade

   O ato de ensinar pode ser definido como a transmissão de conhecimento, experiência ou habilidades. Em diversas esferas da vida, o ensino ocorre sem que o instrutor necessariamente exerça autoridade formal sobre o aprendiz. Exemplos incluem: um pedreiro ensinando um engenheiro, um filho ensinando tecnologias aos pais, ou estagiários instruindo superiores em novas metodologias. Nestes cenários, a transferência de conhecimento não subverte a hierarquia ou a autoridade existente.

Quem ensina exerce autoridade?

   A questão crucial para o debate teológico reside em saber se quem ensina exerce autoridade. A resposta proposta é que nem todo ensino confere autoridade. O aprendizado pode ocorrer em múltiplos sentidos, e a recepção de conhecimento de alguém que possui menos autoridade formal não diminui a autoridade do receptor.

Com certeza existem assuntos que não temos muito conhecimento e poderemos aprender com quem tem. Posso afirmar sem medo e receio que já fui ensinado por meu filho. Fui ensinado por estagiários e isto não tirou minha autoridade sobre eles.

ENSINAR NÃO IMPLICA AUTORIDADE.

Falando nisso, muitos pais erram em não ouvir seus filhos. Muitos professores erram em não ouvir bons alunos.

E ensinar sobre a bíblia? Exerce autoridade quem ensina a Bíblia?

Na segunda questão deixo claro que ensinar não é somente para quem exerce autoridade, mas para quem tem conhecimento sobre algo. Considero que isto se aplica ao ensino bíblico também.

Uma mãe pode ensinar seu filho durante toda sua infância o que a Bíblia diz sobre as coisas da vida. Se seu filho crescer e se tornar Pastor, isto não implica que sua mãe não lhe possa passar conhecimentos bíblicos. Os filhos continuam ouvindo os ensinamentos dos Pais e isto não vai lhe tirar o ofício.

A pregação do evangelho, por sua própria natureza, é uma forma de ensino. Através dela, expõe-se a verdade divina e o caminho da salvação. O mandamento de pregar o evangelho é universal, sem distinção de sexo, conforme o "Ide" de Jesus.

Diversas passagens paulinas incentivam o ensino mútuo entre todos os crentes, sem restrição de gênero:

Colossenses 3:16: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração". Esta passagem encoraja o aconselhamento e a instrução mútua entre todos, homens e mulheres.

Romanos 12:6-8: Ao discorrer sobre os dons espirituais, Paulo menciona o dom de ensinar ("o que ensina esmere-se no fazê-lo") sem restringir este dom ou sua prática a um gênero específico, indicando que o ensino é uma atividade para a igreja como um todo.


Análise de Textos Desafiadores

   Os textos mais frequentemente citados para argumentar contra o ensino ou a pregação feminina são 1 Timóteo 2:11-15 e 1 Coríntios 14:34-35.

1 Timóteo 2:11-15

"A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso".

   Uma interpretação contextualizada sugere que Paulo não proibia o ensino feminino de forma generalizada. Na época, muitas mulheres em Éfeso eram analfabetas e menos instruídas teologicamente. A menção de Eva ter sido enganada pode indicar uma preocupação com a propagação de falsos ensinos por parte de mulheres recém-convertidas e menos versadas nas Escrituras. Além disso, o texto de Tito 2:3-5, onde Paulo instrui as mulheres idosas a "ensinarem as mais novas a amarem seus maridos", demonstra que o ensino feminino era permitido e encorajado em contextos específicos.

   A chave interpretativa de 1 Timóteo 2:12 parece estar na frase "nem exerça autoridade de homem". Como aponta Augustus Nicodemus (1997), a questão central para Paulo não é o ensino em si, mas o exercício de autoridade eclesiástica sobre homens que estaria em desacordo com os princípios da criação. O ministério didático feminino, quando exercido com a autoridade inerente a ofícios como pastor ou presbítero, seria a violação percebida por Paulo.

   Philip Graham Ryken (s.d.) corrobora que proibir a mulher de ensinar qualquer coisa a qualquer homem é um entendimento que confronta a condição profética de todos os cristãos, conforme Atos 2:17-18, que cita Joel: "Vossos filhos e vossas filhas profetizarão". Isso indica que mulheres e homens, cheios do Espírito, profetizariam, o que inclui a transmissão da mensagem divina.

“Ao que tudo indica, algumas mulheres da igreja de Éfeso, insufladas pelo ensino dos falsos mestres, estavam querendo essa posição oficial para ensinar nas assembleias cristãs. Paulo, porém, corrige a situação determinando que elas não assumam posição de liderança autorizada nas igrejas, para ensinarem doutrina cristã nos cultos, onde certamente homens estariam presentes. Paulo não está proibindo todo e qualquer tipo de ensino feito por mulheres nas igrejas. Profetizas na igreja apostólica certamente tinham algo a dizer aos homens durante os cultos. Para o apóstolo, a questão é o exercício de autoridade sobre homens, e não o ensino. O ministério didático feminino, exercido com o múnus da autoridade que ofícios de pastor e presbítero emprestam, seria uma violação dos princípios que Paulo percebe na criação e na queda.

   O ensinar que Paulo não permite é aquele em que a mulher assume uma posição de autoridade eclesiástica sobre o homem. Isso é evidente do fato que Paulo fundamenta seu ensino nas diferenças com que homem e mulher foram criados (v. 13), e pela frase "autoridade sobre o homem" (v. 12b). Um equivalente moderno seria a ordenação como ministro da Palavra, para pregar a Palavra de Deus numa igreja local”. Augustus Nicodemus (FIDES REFORMATA1997)

Alguns cristãos interpretaram esse versículo como dizendo que a mulher nunca deve ensinar coisa alguma a nenhum homem (o que, de qualquer modo, é às vezes difícil de fazer!). Em algumas igrejas as mulheres são proibidas não apenas de pregar, mas de lecionar na escola dominical, participar de estudos bíblicos ou dar qualquer outro tipo de instrução. No entanto, esse entendimento confronta o que a Bíblia ensina a respeito da condição de profeta de todos os cristãos. Pedro, na sua pregação no Pentecostes, citou o profeta Joel: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão” (At 2.17-18). Estudos Bíblicos Expositivos em 1 Timóteo, Philip Graham Ryken

1 Coríntios 14:34-35

"Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja".

   Este texto é frequentemente entendido em um contexto cultural específico de Corinto, onde a ordem no culto era crucial e certas práticas poderiam gerar escândalo ou confusão. A frase "porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja" sugere um caráter cultural à proibição. Além disso, 1 Coríntios 11:5 mostra que Paulo reconhecia que as mulheres oravam e profetizavam nas igrejas, indicando que o "calar-se" não era uma proibição absoluta de qualquer tipo de fala, mas sim uma restrição a falas que perturbassem a ordem ou usurpassem a autoridade masculina na liderança do culto.

   A pergunta "A mulher viúva vai perguntar para quem?" é pertinente. Se a proibição de perguntar em público fosse absoluta, as viúvas estariam em desvantagem, o que não coaduna com o cuidado pastoral de Paulo.

Implicações e Perguntas para Reflexão

   A distinção entre ensinar e exercer autoridade eclesiástica formal é crucial. Se o problema é o ensino em si, seria incoerente permitir que mulheres ensinassem crianças, ou em outros contextos (como em casa), e proibi-las na igreja. Onde estaria o limite etário para o ensino? Quais as bases bíblicas que apontam limites de idade para a mulher ensinar? É proibido, mas tem exceções?

   A proibição de a mulher ensinar implicaria, por coerência, em impedi-las de fazer comentários ou perguntas em escolas bíblicas ou palestras, o que não parece razoável nem pastoralmente sensato, especialmente para visitantes ou descrentes com dúvidas.

   A capacidade intelectual e espiritual de muitas mulheres é inegável, e o fato de aprenderem com professoras no ambiente secular sem desonra levanta a questão: por que seria desonroso para um homem aprender de uma mulher em um contexto religioso? Deus, em Sua lógica criativa, concedeu dons e habilidades a homens e mulheres. Restringir o ensino feminino na igreja sem uma base bíblica sólida parece contradizer essa lógica.

   A pregação do evangelho é um mandamento universal. Se pregar é ensinar o caminho certo, e as mulheres são chamadas a evangelizar, então proibi-las de ensinar na igreja parece contraditório. A escrita de livros sobre temas bíblicos por mulheres, amplamente aceita, também questiona a lógica de uma proibição absoluta de ensino.

Perguntas para reflexão:

1. Perguntar ou discutir em um culto é proibido para todos. As perguntas são feitas em palestras e escolas dominicais, onde acredito que qualquer um possa fazer uma pergunta, quer seja homem, quer seja mulher. Caso a mulher seja obrigada a sair com dúvida, então, porque ir à EBD?

Não há dúvida que proibir a mulher de ensinar implicaria consequentemente em proibi-la de fazer comentários ou perguntar em uma palestra, ou escola bíblica. Àqueles que defendem a mulher calada, devem ser coerentes e não as deixar fazerem colocações ou perguntas.

Isto, em meu entendimento, não é algo de bom senso. A mulher sequer poderia discutir com um homem, pois, a discussão é para defender convicções. Em uma discussão, a mulher com certeza iria querer que sua opinião prevalecesse sobre a do homem. Neste caso, seria contrário aos defensores do não ensino das mulheres.

2. Porque as mulheres podem discutir em outros locais (gabinete pastoral, casa de um irmão, fora do culto, etc.) e não pode na igreja?

3. Quando o fato de ensinar tem função de autoridade? Um irmão qualquer pode ensinar o Pastor e não ter autoridade sobre ele.

4.  Recebemos muitas instruções de mulheres professoras na nossa vida secular e nem por isso ficamos envergonhados ou nos julgamos inferiores. Demonstra apenas um maior conhecimento do assunto. Por que é desonroso um homem aprender de uma mulher?

5.  Em uma EBD, alguma mulher que seja descrente e tenha uma dúvida e faça uma pergunta, vamos mandá-la calar a boca? Não poderiam as visitantes tentar saber sobre Cristo? Não seria importante deixá-la perguntar e aproveitar para pregar o evangelho?

6.  Hoje temos mulheres muito mais capazes que muitos homem. Esposas que corrigem seus maridos em algum deslize. Fica difícil entender o fato de termos mulheres aptas, mas que não podem ensinar. Então fica a pergunta: Deus é muito lógico na sua criação. Ele criou as coisas com muita lógica, então por que Deus não quer que a mulher fale na igreja? Teria alguma explicação lógica ou a resposta será sempre a mesma: “porque não quis”.

7.  Entendo que, alguém que mostra o caminho certo para uma pessoa que está trilhando o errado, ela está ensinando. Partindo deste princípio pregar o evangelho é ensinar o caminho certo que devemos seguir. Então a mulher pode ou não pode pregar? Trata-se de um mandamento? Seria pecado a mulher ensinar na igreja?

8.  Por que então as mulheres escrevem livros sobre assuntos bíblicos? Se ela não pode ensinar, então a lógica seria não escrever livros, ou, pelo menos, estes livros serem proibidos para homens. Há pouca lógica nisto.

Evidências Bíblicas para o Ensino Feminino

   Além das passagens já citadas, outros textos reforçam a capacidade e o dever das mulheres de ensinar:

· Atos 18:26: "Ele, pois, começou a falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus". Este verso indica que Priscila, junto com Áquila, ensinou Apolo com mais exatidão sobre o evangelho.

· Gálatas 3:28: "Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". Esta passagem enfatiza a igualdade fundamental em Cristo, o que tem implicações para o exercício de dons.

· 1 Coríntios 11:5: "Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada". Paulo reconhece que as mulheres oravam e profetizavam, sendo a profecia a transmissão de uma mensagem divina, que frequentemente envolvia ensino, exortação e consolo.

·  Provérbios 1:8: "Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensino de tua mãe". Este verso reconhece a importância do ensino materno no lar.

· Provérbios 14:1: "Toda mulher sábia edifica a sua casa; a insensata, porém, derruba-a com as suas mãos". A sabedoria feminina, que edifica o lar (base da sociedade e da igreja), certamente inclui a aplicação e o ensino da Palavra de Deus.

Conclusão

   A confusão em torno da permissibilidade do ensino feminino muitas vezes surge da assimilação automática entre ensino e autoridade eclesiástica formal. Embora a função de doutrinar a igreja e liderar o rebanho seja atribuída a pastores e presbíteros (homens devidamente ordenados), não há proibições no Novo Testamento que impeçam mulheres de oferecer palavras de encorajamento, conhecimento ou sabedoria, ou de pregar o evangelho. Mulheres profetizavam na igreja do Novo Testamento, transmitindo mensagens divinas que podiam incluir ensino.

   A solução para a questão reside em reconhecer que o ensino das Escrituras é um dever de todo crente, homem ou mulher. Em contextos onde o ensino público pode ser sensível à questão da autoridade, como em sermões congregacionais, pode-se implementar mecanismos como a revisão dos sermões ou ensinos por presbíteros, garantindo que o conteúdo esteja em consonância com a doutrina da igreja. Desta forma, o ensinador (homem ou mulher) cumpre seu chamado de transmitir conhecimento, enquanto os líderes mantêm sua responsabilidade de supervisão doutrinária.

   "Proibir as mulheres de ensinar os homens é contrário ao mandamento bíblico e até mesmo contrário ao exemplo bíblico" (Ryken, s.d.). Que a igreja, em sua sabedoria, possa discernir as Escrituras com misericórdia e lógica, permitindo que todos os seus membros exerçam seus dons para a edificação do Corpo de Cristo.

"Proibir as mulheres de ensinar os homens é contrário ao mandamento bíblico e até mesmo contrário ao exemplo bíblico". Estudos Bíblicos Expositivos em 1 Timóteo, Philip Graham Ryken

QUE DEUS TENHA MISERICÓRDIA DE NÓS

 

 


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