Uma
Defesa Reformada da Perseverança dos Santos
Resumo:
Contrapondo-se à noção de que a salvação é um estado condicional e passível de
ser perdido e recuperado, este estudo defende, por meio de exegese bíblica e da
teologia reformada, a tese da segurança eterna do crente. Argumenta-se que a
salvação, compreendida como um ato da graça divina e não como conquista humana,
é assegurada pela eficácia da obra redentora de Cristo, pelo selo e penhor do
Espírito Santo, pela transformação ontológica do crente (nova criatura,
justificação, filiação divina), e pela soberania e fidelidade de Deus em Seus
propósitos salvíficos. O estudo também examina criticamente passagens bíblicas
frequentemente invocadas para sustentar a perda da salvação (Hebreus 6:4-6;
Hebreus 10:26-29; 2 Pedro 2:20-22), oferecendo interpretações consistentes com
a doutrina da perseverança. Conclui-se que a segurança do crente encontra
robusto fundamento escriturístico, refletindo o caráter imutável de Deus e a
natureza consumada de Sua obra salvífica.
1.
Introdução
A
questão da permanência da salvação figura entre os debates teológicos mais
persistentes no cristianismo. A indagação central – "Será que a salvação
pode ser perdida?" – suscita divergências com implicações profundas para a
certeza e a vida cristã. Uma corrente significativa defende que a salvação pode
ser perdida e recuperada, muitas vezes motivada pelo receio de que a segurança
eterna possa fomentar o antinomianismo, ou seja, uma vida de licenciosidade.
Contudo,
tal receio questiona a própria natureza da regeneração. O salvo genuíno deseja
pecar deliberadamente? Este artigo visa analisar biblicamente a doutrina da
segurança da salvação, também conhecida como perseverança dos santos,
argumentando em favor de sua solidez com base na teologia reformada.
2.
Fundamentos Teológicos da Segurança da Salvação
A
segurança do crente não repousa em sua própria capacidade de perseverar, mas na
fidelidade e no poder de Deus que o preserva.
2.1. A
Natureza da Salvação como Dom da Graça Divina
O
ponto de partida é a origem da salvação. A Escritura é clara: a salvação é um
dom da graça de Deus, não um resultado de mérito humano (Efésios 2:8-9). Se a
obtenção da salvação não depende de nossas obras, sua manutenção, logicamente,
também não se alicerçaria em nosso desempenho. O pensamento de
"perder" a salvação está ligado à ideia de "ganhá-la", mas
a verdade bíblica é que ela é recebida gratuitamente.
2.2. A
Eficácia da Redenção pelo Sangue de Cristo
A
salvação foi comprada a um preço definitivo e de valor infinito. O apóstolo
Pedro afirma:
“Sabendo
que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo
precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de
Cristo.” (1 Pedro 1:18-19)
Este
resgate satisfez integralmente a justiça divina. A dívida dos eleitos foi paga.
A perda da salvação por um crente genuíno implicaria que o sangue de Cristo foi
insuficiente ou que Deus revogaria uma compra pela qual Ele pagou o preço
máximo. Ambas as ideias são teologicamente insustentáveis.
2.3. O
Espírito Santo como Selo e Penhor da Salvação
A obra
do Espírito Santo na vida do crente serve como uma garantia divina da
consumação da salvação. Paulo ensina que, ao crer, os crentes foram selados
com o Espírito, que é o penhor de sua herança:
“em
quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa
salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da
promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua
propriedade, em louvor da sua glória.” (Efésios 1:13-14)
O
"selo" (σφραγίς - sphragis) denota propriedade e proteção. O
"penhor" (ἀρραβών - arrabōn) é uma garantia, uma primeira
parcela que assegura o pagamento integral. Dizer que a salvação se perde é
invalidar o Espírito Santo como garantia. Este selo, conforme Efésios 4:30,
perdura “para o dia da redenção”.
O
teólogo Charles Caldwell Ryrie reforça essa ideia:
"O
Espírito sela o cristão até o dia da redenção (Ef 4.30). Se a salvação pode ser
perdida, então seu selo não dura até o dia da redenção, mas somente até o dia
do pecado, ou da apostasia, ou ainda da incredulidade. É claro que não há base
bíblica para a perda do novo nascimento pelo cristão [...] A salvação é eterna
e completamente segura para todos os que creem." ¹
2.4. A
Transformação Ontológica do Crente
A
salvação não é apenas uma mudança de status, mas de natureza.
·
Nova Criatura: “E,
assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios 5:17). Não há base bíblica
para uma reversão dessa nova criação.
·
Justificação:
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus” (Romanos 5:1). A
justificação é um veredito legal e final de Deus. Sua revogação contradiria a
justiça e a fidelidade divinas.
·
Vida Eterna:
Cristo dá “vida eterna” (João 10:28). A própria terminologia "eterna"
(αἰώνιος - aiōnios) exclui a possibilidade de fim.
·
Filiação Divina: Os
crentes são feitos “filhos de Deus” (João 1:12; 1 João 3:1). Deus não renega
Seus filhos.
2.5. A
Soberania Divina na Obra da Salvação
A
Escritura atribui a iniciativa, a execução e a consumação da salvação a Deus.
·
A Promessa de Cristo: “Todo
o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei
fora.” (João 6:37). “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as
arrebatará da minha mão.” (João 10:28). A segurança da ovelha está na mão do
Bom Pastor e na mão do Pai.
·
A Cadeia da Salvação: Romanos
8:30 apresenta uma sequência inquebrável: “E aos que predestinou, a esses
também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que
justificou, a esses também glorificou.” Não há elos perdidos nesta corrente. Se
a justificação está garantida, a glorificação também está.
·
A Obra Consumada:
“Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de
completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.” (Filipenses 1:6).
Gordon
Fee,
comentando a segurança do crente, escreve:
"Cristãos
em Cristo são pessoas do futuro; um futuro seguro que começou no presente. São
‘cidadãos do céu’ (3:20), que vivem a vida do céu, no presente, em qualquer
circunstância que se encontrem." ²
3.
Análise de Passagens de Advertência
As
passagens de advertência não provam que a salvação pode ser perdida; elas são
os meios que Deus usa para exortar e preservar os Seus eleitos na fé.
3.1.
Hebreus 6:4-6
“É
impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom
celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa
palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível
outra vez renová-los para arrependimento...”
Experiências
Profundas, mas Não Regeneradoras
As
cinco experiências listadas, embora pareçam descrever a vida cristã, não são
exclusivas dos regenerados. Elas podem ser aplicadas a membros da igreja
visível que nunca pertenceram à igreja invisível. Hernandes Dias Lopes explica
essa distinção citando exemplos como Judas, "apóstolo de Cristo, mas não
era convertido", e Demas, "cooperador de Paulo, mas amou o presente
século".
Vamos
analisar as experiências:
1. Foram
Iluminados: Refere-se a um entendimento intelectual da verdade do
Evangelho, não a uma transformação regeneradora. Como afirma Augustus
Nicodemus, é ter a mente iluminada para entender a verdade, algo que até o
governador Félix experimentou ao ouvir Paulo (At 24:25).
2. Provaram
o dom celestial e a boa palavra de Deus: O teólogo Stuart Olyott,
compara essa experiência à semente que cai em solo rochoso na parábola do
semeador. Há um recebimento inicial com alegria, um "provar", mas sem
raiz, a pessoa não persevera (Mt 13:20-21). A experiência é real, mas
superficial.
3. Tornaram-se
participantes do Espírito Santo: Não se refere ao selo e à
habitação permanente do Espírito, mas a beneficiar-se de Sua obra na comunidade
cristã. Simon Kistemaker lembra que os israelitas no deserto
"participaram" das manifestações do poder de Deus (a nuvem, o fogo, o
maná), mas mesmo assim apostataram pela incredulidade.
4. Provaram
os poderes do mundo vindouro: Tinham presenciado os
milagres e o poder que acompanhavam a pregação do Evangelho na era apostólica.
Judas, mesmo sendo chamado de "diabo" por Jesus (Jo 6:70), participou
da missão de curar e expulsar demônios (Mt 10:7-8).
A
Distinção Crucial (Vós vs. Aqueles)
Diversos comentaristas apontam para a
mudança de pronomes como uma chave interpretativa. No início do capítulo, o
autor diz "prossigamos" (v. 1) e, após a advertência, ele se volta
diretamente aos seus leitores com palavras de confiança: "Mas de vós, ó
amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação" (Hb
6:9). Essa mudança da segunda pessoa ("vós") para a terceira
("aqueles") sugere que o autor está descrevendo um grupo hipotético
ou uma categoria de pessoas diferente de seus leitores, a quem ele considera
genuinamente salvos.
A Queda: Pecado ou Apostasia Irreversível?
A
interpretação de que este texto bíblico se refere à perda da salvação é
insustentável, pois ele afirma a impossibilidade de retorno para quem cai, o
que eliminaria a chance de arrependimento para uma salvação perdida – uma ideia
dificilmente aceitável. Assim, o texto descreve indivíduos que tiveram contato
com bênçãos divinas, mas não eram verdadeiramente salvos. A teologia arminiana,
que permite perder e recuperar a salvação, contradiz a impossibilidade de
retorno mencionada no texto, sugerindo que qualquer "perda de
salvação" seria definitiva. Entende-se, portanto, que se trata de uma
"fé superficial" ou temporária, análoga à semente na parábola do
semeador que não produz frutos maduros, como ilustrado em Hebreus 6:7-8, onde
os indivíduos descritos geram espinhos. Essas pessoas participaram de
experiências espirituais e manifestaram dons, como aqueles que Jesus disse que
nunca conheceu, apesar de seus feitos. Infelizmente, é possível avançar
consideravelmente na vivência cristã e experimentar manifestações do Espírito
Santo sem uma regeneração genuína. Esse quadro configura a apostasia: alguém
com conhecimento e experiência suficientes de Cristo, tornando-se
indesculpável, rejeita a fé e se torna seu adversário, cometendo a blasfêmia
contra o Espírito – o pecado irremissível que impede o arrependimento. A
parábola do semeador detalha estágios de indivíduos não salvos que se aproximam
da salvação, como o solo espinhoso, onde a semente é sufocada pelos cuidados
mundanos e os frutos não amadurecem, representando o máximo que alguém não
regenerado pode alcançar. Conclui-se que o texto de Hebreus não trata da
"perda da salvação" ou da impossibilidade de um crente se arrepender
após uma queda, mas sim daqueles que, com o tempo, revelam nunca terem sido
verdadeiramente convertidos.
Nos
versículos 7 e 8, o autor de Hebreus utiliza uma poderosa analogia agrícola
para ilustrar e confirmar a distinção entre o crente genuíno e o apóstata. A "chuva
que frequentemente cai sobre a terra" simboliza a mesma graça externa e os
privilégios espirituais descritos nos versículos 4-5 — a iluminação pela
Palavra, a influência do Espírito e o contato com os poderes de Deus. O ponto
crucial da ilustração é que ambos recebem as mesmas bênçãos externas. No
entanto, a resposta de cada um revela sua verdadeira natureza interna. A terra
fértil, que representa o crente salvo, absorve a graça e "produz erva
útil", ou seja, os frutos de um arrependimento e fé genuínos, recebendo
assim a "bênção da parte de Deus". Em contraste, embora recebendo a
mesma chuva, também "produz espinhos e abrolhos". Isso demonstra que,
apesar de toda a influência externa, sua natureza nunca foi regenerada. Seu
fruto é a apostasia, e seu destino inevitável é a rejeição e o juízo —
"perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada". Portanto, a
ilustração não descreve uma terra boa que se torna má, mas duas classes
distintas de pessoas cuja condição real é revelada pelo fruto que produzem sob
a mesma influência do Evangelho.
Este texto descreve pessoas que tiveram uma profunda exposição às bênçãos do Evangelho, mas não necessariamente a regeneração. A chave está no versículo 9, onde o autor diz: “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação”. Ele distingue a experiência dos apóstatas da condição de seus leitores, que possuem o que de fato "acompanha a salvação".
3.2.
Hebreus 10:26-29
"Porque,
se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados... De quanto
mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos
pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado,
e ultrajou o Espírito da graça?"
O
Perfil do Sujeito: O Apóstata, não o Filho Pródigo
As
ações descritas no versículo 29 pintam o retrato não de uma ovelha perdida, mas
de um inimigo declarado de Cristo:
- "Calcou aos
pés o Filho de Deus": Esta é uma imagem de
extremo desprezo e desdém. É tratar o Filho de Deus como algo sem valor,
digno de ser pisoteado.
- "Profanou o
sangue da aliança": Considerou o sangue de
Cristo, o fundamento da Nova Aliança, como algo "comum" (koinon),
profano, sem poder salvífico.
- "Ultrajou o
Espírito da graça": Insultou e agiu com
insolência contra o próprio Espírito Santo, cuja obra é convencer do
pecado e aplicar a graça da salvação.
Esses
atos não são falhas de um coração que ama a Deus, mas a expressão de um coração
endurecido que passou a odiar a verdade que um dia conheceu. Este é o perfil do
apóstata, alguém que recebeu "o pleno conhecimento da verdade" (Hb
10:26), similar àquele que foi "iluminado" em Hebreus 6, mas que, em
vez de abraçar essa verdade em fé salvadora, se afasta conscientemente.
A
Chave da Interpretação: A Santificação Pactual
A
frase mais desafiadora é "com o qual foi santificado". Como pode
alguém que está condenado ao juízo ter sido "santificado"? A resposta
está em entender que a palavra "santificar" (ἁγιάζω - hagiazo)
possui diferentes nuances na Bíblia. Embora frequentemente se refira à
santificação interna e progressiva do crente, ela também pode significar uma santificação
externa e pactual.
Ser
"santificado" neste sentido é ser "separado" ou
"consagrado" por fazer parte da comunidade da aliança, a igreja
visível. Assim como toda a nação de Israel era chamada de "santa"
(separada para Deus), mesmo que muitos de seus membros não fossem regenerados,
uma pessoa que professa fé em Cristo é exteriormente separada do mundo. Ela
participa dos ritos da aliança (batismo, Ceia do Senhor), é ensinada pela
Palavra e vive sob a influência da comunidade cristã. O sangue da aliança é o
que estabelece e sela esta comunidade.
Portanto,
o apóstata descrito aqui é alguém que foi separado do mundo e ingressou na
comunidade da aliança. Ao abandonar a fé, ele profana o próprio sangue que o
marcou como "santo" em um sentido posicional e externo, tratando-o
como se não tivesse valor. Ele não perde uma salvação interna que possuía, mas
despreza a posição pactual que um dia professou ter.
O
Contraste Final: A Confiança e a Perseverança dos Santos
O
próprio autor de Hebreus impede que interpretemos mal sua advertência.
Imediatamente após descrever o juízo do apóstata, ele se volta para seus
leitores com encorajamento, lembrando-os de sua fidelidade passada e
exortando-os a não abandonar a confiança, pois ela tem "grande
galardão" (vv. 32-35).
A
conclusão do capítulo é a declaração mais clara possível da distinção entre o
apóstata e o verdadeiro crente:
"Nós,
porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé,
para a conservação da alma." (Hebreus 10:39)
O
autor se inclui com seus leitores ("Nós") e os separa categoricamente
do grupo que "retrocede para a perdição". Os verdadeiros crentes são
"da fé", e o resultado dessa fé é a "conservação da alma",
um sinônimo para a salvação eterna. Essa segurança não se baseia na força do
crente, mas na fidelidade de Deus, que prometeu: "Aquele que em vós
começou a boa obra, há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus" (Filipenses
1:6).
Em suma, Hebreus 10:26-29 não é uma ameaça à segurança dos filhos de Deus, mas um aviso solene sobre o fim trágico daqueles que rejeitam a salvação. Descreve o pecado da apostasia em sua forma mais grave: uma rejeição deliberada, final e cheia de desprezo contra o Filho, seu Sacrifício e o Espírito da Graça. Para o verdadeiro crente, a passagem serve como um chamado à perseverança, lembrando-nos do valor infinito do sacrifício de Cristo e da certeza da nossa salvação, guardada não por nós, mas pelo poder de Deus.
3.3. 2
Pedro 2:20-22
“Portanto,
se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento
do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos,
tornou-se o último estado deles pior que o primeiro... O cão voltou ao seu
próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal.”
A
analogia de Pedro é a chave interpretativa. Ele não compara essas pessoas a
ovelhas que se sujam, mas a um cão e uma porca. A razão pela qual
eles retornam ao vômito e à lama é que sua natureza fundamental nunca mudou.
Uma porca pode ser lavada externamente, mas sua natureza suína a levará de
volta à lama. Um crente, que recebeu uma nova natureza de "ovelha",
pode cair, mas sua natureza o levará ao arrependimento, não ao deleite no
pecado. O retorno permanente aos velhos hábitos prova que a "fé" era
apenas uma reforma externa, não uma regeneração.
A
leitura integral da passagem de Pedro revela que os sujeitos de sua descrição
não são indivíduos regenerados. Sua caracterização como mentirosos, entregues à
carnalidade e corrupção (conforme os versículos 3, 18 e 19), contrasta
fortemente com o conceito bíblico de uma nova criação em Cristo. O versículo
20, ao mencionar que eles "escaparam das contaminações do mundo mediante o
conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo" antes de se enredarem
novamente, aponta para um afastamento superficial de práticas mundanas devido à
sua associação com a comunidade dos eleitos, mas não para uma salvação genuína,
visto que seu estado final é pior. Pedro escreve para judeus. Povo que se
declarava resgatado e adquirido através da libertação do cativeiro egípcio. Deus
havia redimido seus pais do Egito com braço forte, e, em sucessivas eras, tinha
distinguindo-lhes com favores peculiares; mesmo que alguns fossem homens
ímpios. Cristo não é mencionado aqui, como também nem uma só sílaba se refere a
Sua morte por quaisquer pessoas, em nenhum sentido.
3.4.
Aqueles que se Desviam
O
apóstolo João oferece a explicação definitiva para aqueles que abandonam a fé:
“Eles
saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido
dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse
manifesto que nenhum deles é dos nossos.” (1 João 2:19)
A
perseverança, portanto, é a prova da autenticidade da fé. A apostasia não é a
perda da salvação, mas a revelação de que a salvação nunca foi possuída.
As
passagens de advertência, portanto, não contradizem a segurança do crente. Elas
são o chamado de Deus à vigilância, à seriedade e à fé contínua, os próprios
meios pelos quais Ele nos guarda. Elas nos forçam a examinar a nós mesmos (2
Coríntios 13:5), não para duvidar da promessa de Deus, mas para garantir que
nossa confiança está firmada unicamente em Cristo, o autor e consumador da
nossa fé.
4.
Conclusão
A
doutrina da perseverança dos santos é teologicamente robusta e profundamente
consoladora. A segurança do crente não é uma licença para pecar, mas a base
para uma vida de gratidão, adoração e serviço, livre do medo paralisante de uma
salvação incerta. A salvação, como uma obra da graça soberana de Deus, efetuada
pelo sacrifício de Cristo e selada pelo Espírito Santo, é permanente.
A
regeneração, descrita como um "nascer de novo", não encontra um
correlato bíblico de um "morrer de novo" espiritual. Como resume o
teólogo Michael Horton:
"Para
perdermos nossa salvação, teríamos que retornar à condição de morte espiritual.
Que tipo de regeneração o Espírito Santo seria autor se aqueles a quem ele
ressuscitou e deu vida eterna são capazes de morrer espiritualmente de novo?
[...] pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível
(1 Pedro 1.23)." ³
Portanto,
a indefectibilidade da salvação não é um reflexo da força do crente, mas um
testemunho da fidelidade, do poder e do amor imutável de Deus, que se
compromete a completar a obra que Ele mesmo iniciou em Seus eleitos.
Referências
Bibliográficas
¹
RYRIE, Charles Caldwell. Teologia Básica: Ao Alcance de Todos. São
Paulo: Mundo Cristão, 2004.
² FEE,
Gordon D. Comentário da Epístola aos Filipenses. São Paulo: Vida Nova,
1995.
³
HORTON, Michael. A Doutrina Cristã: Um Guia para as Crenças Fundamentais do
Cristianismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2016.
·
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática.
São Paulo: Cultura Cristã, 2012.
·
NICODEMUS, Augustus. Hebreus: O Sacerdócio
Superior de Cristo. São Paulo: Vida Nova, 2018.
·
CHAFER,
Lewis Sperry. Systematic Theology. Grand Rapids: Kregel
Publications, 1993.
Perguntas:
1.
Se alguém perde a salvação, sugere-se que ela
também a ganha. Perder e ganhar são consequências inatas. Isso não tornaria a
salvação algo que se possa ganhar por mérito?
2.
Se a salvação pode ser perdida e depois
recuperada, qual é o mecanismo bíblico exato que governa esse processo? Para
que a doutrina seja consistente, a Escritura precisaria esclarecer:
O Limite da Perda: Qual
pecado específico, ou qual acúmulo de pecados, tem o poder de anular o selo do
Espírito Santo (Efésios 4:30), a justificação declarada por Deus (Romanos 5:1)
e o resgate efetuado pelo sangue de Cristo? Onde a Bíblia define objetivamente
essa fronteira?
O Processo de
Recuperação: Qual é o procedimento exato para ser
"salvo de novo"? É um arrependimento qualitativamente diferente do
primeiro? A pessoa precisa ser justificada novamente? Onde a Bíblia descreve um
caminho para uma "segunda" ou "terceira" conversão?
A Frequência do Ciclo:
Quantas vezes um indivíduo pode passar por este ciclo de
"salvo-perdido-salvo"? A passagem de Hebreus 6:4-6, que fala da
impossibilidade de renovar para arrependimento aqueles que caem, não impõe um
limite de apenas "uma perda" definitiva, contradizendo a ideia de que
se pode recuperar a salvação várias vezes?
3.
A
partir da perspectiva atemporal e onisciente de Deus, que conhece o fim desde o
princípio, como Ele enxerga a condição de um crente na Terra?
Se
a salvação pode ser perdida a qualquer momento, Deus não veria apenas um grupo
de pessoas em um estado de salvação provisória e condicional? Nesse
caso, para Deus, ninguém estaria verdadeiramente "salvo" de forma
definitiva até o momento da morte. Ele veria "candidatos à salvação"
cuja situação final ainda é incerta.
Ou,
ao contrário, Deus, em virtude da obra consumada de Cristo e de Sua promessa,
já enxerga o crente como justificado e glorificado (Romanos 8:30)? Ele
vê na Terra um povo que já é Seu, cuja salvação é uma realidade presente e
garantida em Seus olhos?
Em
suma: aos olhos de Deus, a justificação é um status real e definitivo ou
apenas uma condição temporária e revogável?
4.
Se
a possibilidade de perder a salvação acompanha o crente até seu último suspiro,
somos forçados a duas conclusões lógicas. Gostaria de entender como a teologia
que defende essa visão lida com elas:
A
Impossibilidade da Certeza em Vida: Se o status final da salvação só é ratificado
após a morte, como um crente pode atender à exortação bíblica de ter plena
certeza e segurança de sua vida eterna agora (1 João 5:13)? A
salvação não se tornaria uma esperança incerta em vez de uma posse presente e
garantida?
A
Reintrodução das Obras e do Mérito: Se a confirmação da salvação depende de uma
"análise final" da vida inteira do indivíduo, esse juízo post-mortem
não se torna, na prática, um balanço de méritos para determinar se a
pessoa foi "boa o suficiente" para perseverar? Como esse modelo
difere fundamentalmente de uma salvação por obras, e o que resta da doutrina da
justificação gratuita pela graça, se o veredito final depende de uma
avaliação de desempenho?
5.
Permita-me
propor um dilema prático e pessoal que essa doutrina cria. A pergunta é direta:
com base na sua compreensão da Bíblia, você, neste exato momento, se
considera salvo? Analisemos as possíveis respostas:
Se a sua resposta for "Sim,
sou salvo": Então, logicamente, cada novo dia de vida representa um
risco contínuo e real de cometer um erro que poderia anular o estado de graça
em que você se encontra. O momento mais seguro para a sua eternidade não seria,
então, este exato instante de certeza? Como conciliar uma vida de crescimento
com uma doutrina que transforma o futuro em um campo minado para a alma?
Se a sua resposta for "Não,
ainda não sou": O que, objetivamente, está faltando para que a obra
redentora de Cristo se torne plenamente eficaz em sua vida? Qual obra, ato de
arrependimento ou nível de santidade você precisa alcançar para que Deus o
considere, finalmente, salvo? Isso não define a salvação como uma meta a ser
atingida por esforço, em vez de um presente a ser recebido pela fé?
Se a sua resposta for "Não
sei ao certo": Como o Evangelho, que é definido como "boas novas
de grande alegria", pode resultar em uma incerteza tão fundamental sobre o
relacionamento mais importante que uma pessoa pode ter? Uma doutrina que, por
sua própria natureza, impede a segurança e a paz com Deus (Romanos 5:1) pode
ser considerada a rocha sólida sobre a qual firmamos nossa fé?
6.
Jesus faz uma promessa com três camadas de
segurança absoluta em João 10:28-29:
Ele nos dá "a vida
eterna" (um dom de natureza perpétua).
Ele afirma que suas ovelhas "jamais
perecerão" (uma garantia incondicional).
Ele declara que "ninguém
as arrebatará" de Sua mão ou da mão do Pai (uma proteção dupla e
invencível).
Diante disso, pergunto:
Quem é mais forte que Cristo
para conseguir arrancar a ovelha? E, à luz da parábola da ovelha perdida (Lucas
15), onde o Bom Pastor deixa as noventa e nove para buscar ativamente a que se
desgarrou até encontrá-la, a perda de uma ovelha não representaria, em última
instância, um fracasso na missão, no poder e no caráter do próprio Pastor que
prometeu não perder nenhuma?
7.
Sobre o Valor do Sacrifício de Cristo: Se a
salvação, comprada pelo "precioso sangue de Cristo" (1 Pedro 1:19),
pode ser perdida por um ato humano, isso não diminui o valor infinito e a
eficácia consumada desse sacrifício? Um resgate pode ser considerado completo
se aquele que foi resgatado pode simplesmente voltar ao cativeiro por conta
própria?
8.
Sobre a Justiça de Deus: Se
Deus declara um pecador "justo" (justificação) com base na fé em
Cristo (Romanos 5:1), como poderia Deus, em Sua perfeita justiça, reverter Seu
próprio decreto legal e voltar a condenar aquele que Ele mesmo declarou justo?
Isso não faria de Deus um juiz inconstante?
9.
Sobre a Promessa de Vida Eterna:
Jesus promete "vida eterna" (João 3:16, João 10:28). Como algo pode
ser genuinamente "eterno" (αἰώνιος - aiōnios) e, ao mesmo
tempo, passível de interrupção ou fim? A expressão "vida eterna
condicional" não seria uma contradição em termos?
10.
Sobre a Paternidade de Deus: Se
nos tornamos "filhos de Deus" por um ato de adoção divina (João 1:12,
Gálatas 4:5), em que base bíblica um Pai perfeito e amoroso deserdaria Seu
filho genuinamente regenerado? A nossa filiação depende do nosso desempenho
contínuo ou do ato gracioso e irrevogável de Deus?
Sobre a Obra do
Espírito Santo e a Garantia da Salvação
11.
Sobre o Selo do Espírito: O
apóstolo Paulo afirma que fomos "selados com o Santo Espírito da
promessa" para o "dia da redenção" (Efésios 1:13, 4:30). Se a
salvação pode ser perdida, o que significa esse selo? Ele seria um selo
temporário ou um selo que pode ser quebrado pelo homem, tornando a promessa de
Deus falha?
12.
Sobre o Penhor do Espírito: O
Espírito Santo é dado como "penhor" (ἀρραβών - arrabōn), ou
seja, a garantia e o pagamento inicial da nossa herança (2 Coríntios 1:22).
Afirmar que a salvação pode ser perdida não é o mesmo que dizer que a garantia
de Deus pode falhar ou que o Espírito Santo é uma garantia insuficiente para
assegurar a herança completa?
13.
Sobre a Blasfêmia contra o Espírito: O
texto sobre Hebreus 6:4-6 aponta para a impossibilidade de renovar para o
arrependimento aquele que apostata. Se um crente verdadeiro pudesse perder a
salvação, como essa passagem se harmonizaria com a ideia de que se pode perder
e recuperar a salvação repetidamente? A perda, segundo este texto, não seria
definitiva e sem retorno, invalidando a teologia arminiana clássica?
Sobre a Natureza do
Crente e a Soberania de Deus
14.
Sobre a Nova Criação: Se
em Cristo somos uma "nova criatura" onde "as coisas antigas já
passaram" (2 Coríntios 5:17), como essa nova criação ontológica pode ser
revertida? Pode uma pessoa "des-nascer de novo" e voltar a ser a
"velha criatura" que já passou?
15.
Sobre a Mão Protetora de Deus:
Jesus declara enfaticamente: "Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão,
e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que
tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar" (João 10:28-29). Se a
salvação pode ser perdida, quem teria o poder de nos arrebatar da mão do Pai e
do Filho? Seria a nossa própria vontade mais forte que o poder protetor do Deus
Todo-Poderoso?
16.
Sobre a Cadeia da Salvação:
Romanos 8:30 apresenta uma cadeia dourada e inquebrável de atos soberanos de
Deus: "E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a
esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou".
Se um crente justificado pode se perder, onde essa cadeia se rompe? Deus falha
em glorificar todos os que Ele justificou?
17.
Sobre a Perseverança como Obra de Deus:
Filipenses 1:6 afirma: "Estou plenamente certo de que aquele que começou
boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus". A segurança
da salvação depende da nossa capacidade de perseverar ou da fidelidade de Deus
em completar a obra que Ele mesmo iniciou?
18.
Sobre a Natureza da Apostasia: Como
a doutrina da perda da salvação interpreta 1 João 2:19: "Eles saíram de
nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos
nossos, teriam permanecido conosco"? Este texto não oferece a explicação
bíblica mais clara de que a apostasia definitiva não é a perda da salvação, mas
a prova de que a salvação nunca foi genuína?
Outros
Questionamentos Refutatórios à Doutrina da Perda da Salvação
19.
Sobre a Intercessão de Cristo:
Hebreus 7:25 afirma que Jesus "pode salvar totalmente os que por ele se
chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles". Se um crente
verdadeiro — por quem Cristo está ativamente intercedendo diante do Pai — pode
se perder, isso não significaria que a intercessão do nosso Sumo Sacerdote é,
em alguns casos, ineficaz ou ignorada pelo Pai?
20.
Sobre a Lógica da Graça vs. Obras: Se a
salvação é recebida unicamente pela graça mediante a fé, e não por obras para
que ninguém se glorie (Efésios 2:8-9), por qual critério lógico ela seria mantida
por obras ou perdida pela falta delas? Isso não reintroduz o mérito
humano como o fator decisivo para a salvação final, contradizendo o próprio
fundamento da graça?
21.
Sobre o Corpo de Cristo: A
Bíblia descreve a Igreja como o Corpo de Cristo, do qual os crentes são membros
individuais (1 Coríntios 12:27). A perda da salvação de um membro genuíno
implicaria que o Corpo místico de Cristo pode ser desmembrado ou mutilado pela
falha humana. Cristo permitiria que Seu próprio corpo fosse danificado e
ficasse incompleto?
22.
Sobre a Certeza da Salvação: Se a
salvação depende da perseverança falível do homem, como um crente pode ter a
genuína "paz com Deus" (Romanos 5:1) ou a "plena certeza de
esperança até o fim" (Hebreus 6:11)? A ausência de um critério bíblico
claro sobre qual pecado específico causa a perda da salvação não condena o fiel
a uma vida de constante ansiedade e dúvida, em vez da confiança que a Bíblia
encoraja?
23.
Sobre a Natureza da Semente Divina: O
apóstolo João declara: "Todo aquele que é nascido de Deus não vive na
prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não
pode viver pecando, porque é nascido de Deus" (1 João 3:9). Como alguém em
quem a "semente incorruptível" de Deus habita (1 Pedro 1:23) pode, ao
mesmo tempo, cometer um ato de apostasia tão definitivo que anule essa natureza
divina implantada?
24.
Sobre a Soberania da Vontade Divina: A
segurança final da salvação depende da fidelidade imutável de Deus (2 Timóteo
2:13) ou da fidelidade flutuante do homem? Colocar a responsabilidade final da
perseverança no crente não exalta a vontade humana acima da vontade soberana de
Deus, que declarou em João 6:39 que Sua vontade é não perder "nenhum de
todos os que me deu"?
25.
Sobre o Limite da Graça: A
teologia reformada celebra que "onde abundou o pecado, superabundou a
graça" (Romanos 5:20). A doutrina da perda da salvação não impõe, por
definição, um limite a essa superabundância? Existiria um ponto em que o pecado
de um crente se torna mais poderoso que a graça de Deus e o sangue purificador
de Cristo, que "nos purifica de todo pecado" (1 João 1:7)?
26.
Sobre o Propósito das Advertências
Bíblicas: Se a salvação é segura, qual o propósito das severas
advertências contra a apostasia (ex: Hebreus 10:26-31)? Não poderiam essas
advertências ser exatamente o meio que Deus, em Sua soberania, utiliza
para preservar Seus eleitos — despertando-os, exortando-os ao arrependimento e
mantendo-os vigilantes — em vez de serem uma declaração de que eles podem, de
fato, anular sua própria justificação?
27.
Sobre a Unidade da Trindade na
Salvação: A salvação é uma obra trinitária: o Pai elege, o Filho
redime e o Espírito Santo sela. Se um crente eleito pelo Pai, redimido pelo
Filho e selado pelo Espírito pode se perder, em qual Pessoa da Trindade reside
a falha? A vontade do homem seria capaz de frustrar a obra unificada e
harmoniosa do Deus Triúno?
28.
Sobre a Teologia da Aliança (Pacto): A Nova Aliança é descrita por Deus como um pacto no qual Ele mesmo
garante o cumprimento por parte de Seu povo: "Porei o meu temor no seu
coração, para que nunca se apartem de mim" (Jeremias 32:40). Se a
segurança depende do homem, como essa promessa pactual de Deus, que garante a
perseverança do crente, pode ser verdadeira? Não seria uma violação do
juramento de Deus?
29.
Sobre a Lógica da Onisciência de Deus: Se Deus, em Sua presciência, sabe que um indivíduo acabará por se
desviar e se perder, por que Ele o regeneraria, justificaria e adotaria em
primeiro lugar? Isso não tornaria os atos salvíficos de Deus, para aquela
pessoa, temporários e, em última análise, fúteis, algo incompatível com a
sabedoria e o propósito de um Deus soberano?
30.
Sobre a Dupla Punição (Injustiça
Dupla): Se Cristo pagou integralmente a penalidade por todos
os pecados de um crente (passados, presentes e futuros) na cruz, e esse crente
depois "perde" a salvação e é condenado ao inferno por seus pecados,
isso não significa que Deus está punindo os mesmos pecados duas vezes? Uma vez
em Cristo e outra no indivíduo? Como isso se reconcilia com a perfeita justiça
de Deus?
31.
Sobre a Herança Celestial: O apóstolo Pedro descreve nossa herança como "incorruptível, sem
mácula, que não se desvanece, reservada nos céus para vós" (1 Pedro 1:4).
Se a herança está perfeitamente segura e guardada no céu, como é possível que o
herdeiro legítimo perca seu direito a ela? A segurança da herança não implica a
segurança do herdeiro, que é "guardado pelo poder de Deus" (1 Pedro
1:5)?
32.
Sobre a Vida de Ressurreição: Fomos unidos a Cristo não apenas em sua morte, mas também na
"semelhança da sua ressurreição" (Romanos 6:5). A ressurreição é um
evento definitivo que vence a morte de uma vez por todas. Se um crente foi
espiritualmente ressuscitado com Cristo para uma nova vida, pode ele
"morrer espiritualmente de novo"? A vida de ressurreição pode ser
revertida pela morte?
33.
Sobre a Fé como Dom de Deus: A própria fé salvadora é descrita como um "dom de Deus"
(Efésios 2:8) e é concedido a nós "crer em Cristo" (Filipenses 1:29).
Se a fé que nos une a Cristo é, em si, um dom soberano, a permanência da
salvação depende da nossa habilidade de segurar o dom, ou da fidelidade do
Doador que o concedeu e o sustenta? Deus daria um dom que Ele sabe que não
somos capazes de manter?
34.
Sobre a Glória de Deus como Fim
Último: O fim principal da salvação é a manifestação da glória
de Deus (Efésios 1:6, 12, 14). O que traria mais glória a um Deus todo-poderoso
e fiel: salvar um pecador e depois permitir que ele se perca, demonstrando um
aparente fracasso em Sua obra, ou salvar um pecador e preservá-lo através de
todas as suas lutas e quedas, demonstrando o poder insuperável de Sua graça
sustentadora?
Com
base em 1 Coríntios 6:20, 7:23 e Apocalipse 5:9, 14:3-4 (A Doutrina da Compra):
35. Os textos afirmam categoricamente que fomos "comprados por preço". Se um crente foi comprado pelo sangue de Cristo, ele deixou de pertencer a si mesmo e passou a ser propriedade de Deus. Como, então, a "propriedade" adquirida por Deus poderia se perder ou ser roubada? A transação divina, selada com o sangue do Cordeiro, pode ser anulada por falha humana?
36. Apocalipse 5:9 especifica que Cristo nos "comprou para Deus". Se a perda da salvação fosse possível, isso não significaria que algo que o Filho adquiriu e entregou ao Pai pode ser perdido? Que tipo de segurança o Pai teria na aquisição feita pelo Filho se ela não fosse definitiva?
37. Considerando que os redimidos são chamados de "primícias para Deus e para o Cordeiro" (Apocalipse 14:4), e que as primícias representavam a garantia e a consagração de toda a colheita, como poderiam essas primícias se estragar ou se perder? A perda das primícias não invalidaria a promessa de toda a obra redentora de Deus?
Com base em Romanos 3:24-26 (A Doutrina da Justificação e Propiciação):
38. O verso 24 afirma que somos "justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção". Se a justificação é um ato declaratório de Deus, um veredito legal baseado na redenção consumada por Cristo, que novo processo judicial poderia reverter essa sentença? Se o fundamento é a graça de Deus e não o nosso mérito, a perda da salvação não significaria que, no fim, a manutenção do status de "justo" dependia das nossas obras?
39. O verso 25 apresenta Cristo como "propiciação", ou seja, o sacrifício que satisfez plenamente a justiça e a ira de Deus. Se a ira divina contra os pecados de um crente foi completamente aplacada pelo sangue de Cristo, com que base legal Deus poderia voltar a estar irado com esse crente a ponto de condená-lo? Isso não seria exigir o pagamento de uma dívida que já foi totalmente quitada?
40. O
clímax no verso 26 é que Deus realiza a salvação desta forma para "ele
mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus". A
justificação, portanto, é uma demonstração da própria justiça de Deus. Se Deus
declarasse um crente "justo" e depois o "des-justificasse",
tornando-o réu novamente, como Deus manteria Sua reputação de ser um Juiz
perfeitamente justo e fiel à Sua própria palavra e decreto?
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