Mulheres
que Servem a Deus: O Sacrifício dos Espelhos e a Beleza que Permanece
Êxodo
38:8 (ARA) “Fez também a bacia de bronze com o seu suporte de
bronze, dos espelhos das mulheres que se reuniam para ministrar à porta da
tenda da congregação.”
Introdução:
O Caminho para a Presença de Deus
No
coração do deserto, o Tabernáculo erguia-se como o centro da vida e da adoração
de Israel. Para se aproximar da presença de Deus, era preciso passar por dois
objetos sagrados e simbólicos: primeiro, o altar do holocausto, onde o
sacrifício pelos pecados era feito; segundo, a bacia de bronze, onde a
purificação era realizada.
Esta
ordem divina nos ensina uma verdade espiritual imutável: o caminho para Deus
começa na cruz de Cristo, nosso altar de expiação, e continua em uma jornada
diária de purificação e santificação. É na análise do segundo objeto, a bacia,
que encontramos uma das lições mais profundas sobre devoção e serviço,
protagonizada por mulheres de fé.
A
Origem da Bacia: Uma Oferta Incomum
O
texto de Êxodo revela um detalhe fascinante: a bacia e seu suporte não foram
feitos de um bronze qualquer. Foram forjados a partir "dos espelhos das
mulheres que se reuniam para ministrar à porta da tenda da congregação".
Esta informação, aparentemente secundária, revela uma história extraordinária
de sacrifício e propósito.
1.
Conquistas Recém-Adquiridas
De
onde mulheres, que até pouco tempo eram escravas no Egito, possuíam espelhos de
bronze? A resposta está na libertação. Ao saírem do Egito, Deus moveu o coração
dos egípcios para que presenteassem os hebreus com seus tesouros (Êxodo
12:35-36). Para aquelas mulheres, que viveram 400 anos em servidão, sem posses
e talvez sem nunca terem visto o próprio reflexo com clareza, um espelho de
bronze polido era mais que um objeto de luxo. Era um símbolo de liberdade, de
identidade redescoberta e de dignidade. Era a chance de, finalmente, se
enxergarem como indivíduos.
2. O
Serviço à Porta da Tenda
O
texto afirma que essas mulheres "se reuniam para ministrar" (tsabá em
hebraico, uma palavra frequentemente associada ao serviço organizado). Não
sabemos a natureza exata desse ministério — poderiam ser cantoras, guardiãs,
intercessoras ou responsáveis por serviços práticos. O que sabemos com certeza
é que as mulheres tinham um lugar ativo e reconhecido na adoração a Deus desde
o princípio. Elas não eram espectadoras passivas; eram participantes vitais no
serviço divino.
O
Coração por Trás da Oferta: A Renúncia do Reflexo
Quando
Moisés convocou o povo a ofertar materiais para a construção do Tabernáculo, um
momento de decisão chegou para essas mulheres. Elas teriam que escolher entre o
seu tesouro pessoal, um símbolo de sua nova vida, e a obra de Deus.
Imagine
a força dessa escolha. Doar seus espelhos não era apenas entregar um bem
material; era renunciar ao reflexo de si mesmas para que, naquele lugar, a
purificação e a glória de Deus fossem refletidas. Elas entenderam que a beleza
mais importante não era a que o espelho mostrava, mas a beleza de um coração
totalmente entregue a Deus.
Este
ato de generosidade não era sobre abandonar a autoestima, mas sobre entronizar
a Deus. Elas não negaram sua preocupação com a aparência, mas demonstraram que
sua vaidade não as dominava. Havia uma prioridade maior: o serviço ao Senhor.
Esse gesto foi tão marcante que inspirou todo o acampamento e mereceu ser
registrado para sempre nas Escrituras.
Lições
para a Igreja Hoje
O
exemplo dessas mulheres atravessa os milênios e nos desafia profundamente:
- A Beleza Real:
A verdadeira beleza de uma mulher (e de todo cristão) não é medida por
padrões estéticos, mas pela profundidade de sua comunhão com Deus. É uma
beleza que não se desfaz com o tempo, mas que se intensifica com a
proximidade do Criador.
- O Valor do
Sacrifício: O que temos de mais precioso? Nossos
talentos, nosso tempo, nossos recursos, nossa imagem? O exemplo das
mulheres hebreias nos convida a colocar tudo o que valorizamos no altar,
dispostos a abrir mão de prazeres legítimos por uma causa eterna e
superior.
- O Lugar da Mulher
na Obra: A igreja que diminui ou afasta as
mulheres de exercerem seus dons no serviço a Deus vai contra o padrão
bíblico. Assim como no Tabernáculo, há espaço e necessidade para que as
mulheres, com sua força e sensibilidade, ministrem e edifiquem o Corpo de
Cristo.
Conclusão:
Mais que um Reflexo
A
pergunta que ecoa daquele tempo até hoje é: o que a sua vida reflete? As
mulheres do êxodo escolheram que, em vez de seus rostos, seus espelhos
refletissem a santidade e a pureza necessárias para se achegar a Deus.
Que
possamos desejar, acima de tudo, a beleza de Cristo em nós. Não importa o que o
espelho diz sobre nossa aparência exterior; o que realmente importa é o que
Deus vê em nosso coração. A maior beleza não é aquela que vemos no espelho, mas
aquela que se revela quando o quebramos aos pés do Senhor em adoração.
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