Os Mandamentos Foram Escritos Apenas para Israel?
"E, a todos quantos andarem de conformidade com esta
regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus."
(Gálatas 6:16)
Introdução: Um Único Povo, Um Único Plano
A questão sobre a validade dos Dez Mandamentos para a
Igreja hoje nos leva a uma verdade fundamental da fé cristã: a soberania e a
onisciência de Deus na eleição de Seu povo. Antes mesmo da fundação do mundo,
Deus não apenas previu, mas decretou um plano de redenção para um povo
escolhido. Este povo não é definido por etnia, raça ou nacionalidade, mas por
Sua graça soberana.
A história da redenção revela a linhagem deste povo único:
começando com Adão, passando por Noé, Abraão, Isaque e Jacó (que se tornou
Israel). A nação de Israel foi o veículo terreno através do qual Deus
manifestou Seu plano ao mundo, mas nunca foi o fim em si mesma. Dentro da
nação, sempre existiu o "Israel de Deus" — o remanescente fiel,
composto por aqueles que verdadeiramente criam em Suas promessas.
É um equívoco teológico pensar que Deus possui dois planos
ou dois povos distintos (Israel e a Igreja). A salvação em Cristo é um plano
eterno e imutável. A religião verdadeira sempre foi centrada em Cristo — seja
no Cristo que havia de vir (Antigo Testamento) ou no Cristo que já veio (Novo
Testamento). Cristo não inaugurou uma nova religião, mas cumpriu e purificou a
verdadeira fé, que havia sido distorcida.
Quando a nação de Israel, em sua maioria, rejeitou o
Messias, o plano de Deus não falhou. Pelo contrário, Ele expandiu visivelmente
Seu rebanho, enxertando os gentios no "Israel de Deus" (Romanos 11).
A Igreja do Novo Testamento, batizada pelo Espírito Santo no Pentecostes, é a
continuação e a expansão do verdadeiro Israel. Portanto, existe uma unidade
ininterrupta entre os fiéis de todas as épocas.
Com base nessa premissa, analisamos a relevância dos
mandamentos.
1. A Lei Foi Entregue ao Povo de Deus, Representado por
Israel
Quando compreendemos que a história bíblica é a história de
um único povo, entendemos que as leis entregues no Sinai transcendem a nação de
Israel. Naquele momento histórico, a nação representava o povo eleito de Deus,
assim como Adão representou toda a humanidade. Portanto, quando Deus legislava
para Israel, Ele estava estabelecendo Seus preceitos para o Seu povo. As leis
cerimoniais, que apontavam para o sacrifício de Cristo, encontraram seu
cumprimento Nele. Contudo, a lei moral, que reflete o caráter do próprio Deus,
permanece.
2. A Lei Moral é Intrinsecamente Boa para o Povo de Deus
Os Dez Mandamentos, escritos pelo dedo de Deus, são uma
expressão de Sua santidade e de Sua vontade para o bem de Seu povo. Eles são o
guia para um relacionamento saudável com o Criador e com o próximo. Se estes
princípios eram bons para o povo de Deus no Antigo Testamento, por que se
tornariam irrelevantes ou prejudiciais para o povo de Deus no Novo Testamento?
Hoje, muitos cristãos, sob a influência do antinomismo
(rejeição à lei), tratam os mandamentos como um fardo ou algo negativo. O
salmista, porém, se deleitava na Lei do Senhor (Salmo 119:97). A observância de
um dia de descanso e adoração, por exemplo, é uma bênção, não uma maldição. A
Lei, em sua essência moral, foi e continua sendo um presente gracioso para o
povo de Deus.
3. Rejeitar a Lei Moral Implica em um Deus Mutável
A consequência lógica de se opor à permanência da lei moral
é crer em um Deus que muda. Essa visão sugere que Deus considerou algo bom e
justo em uma época, mas depois revisou Seus padrões morais. Isso é
teologicamente perigoso.
Se Deus estabeleceu que a mentira, o adultério ou a cobiça
eram pecados, Ele não "atualizou" Sua santidade para permitir tais
atos hoje. O caráter de Deus é imutável (Malaquias 3:6). Sua vontade moral, que
é um reflexo de quem Ele é, não muda com o tempo ou com as dispensações. O que
é bom para Deus será sempre bom. Negar isso é, em última análise, pregar um
deus diferente daquele revelado nas Escrituras.
Conclusão: Um Só Povo, Uma Só Lei Moral, Um Só Deus
Imutável
A separação radical entre Israel e a Igreja leva a erros
graves: a ideia de que Deus tem dois povos, duas formas de salvação e,
consequentemente, uma natureza mutável.
A verdade bíblica é que Deus elegeu, antes da fundação do
mundo, um único povo, formado por judeus e gentios de todas as nações. Os Dez
Mandamentos, como expressão da lei moral de Deus, foram entregues a este povo.
Argumentar que foram destinados apenas à nação de Israel
leva a uma conclusão insustentável: se a nação de Israel ainda existe, os
mandamentos seriam válidos para eles, mas não para os cristãos gentios. Tal
distinção é contrária ao ensino do Novo Testamento, que afirma que em Cristo
"não há judeu nem grego" (Gálatas 3:28), pois todos são um no
"Israel de Deus".
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