Desafios
do Pastorado: 10 Desvios Comuns que Ameaçam o Ministério
Introdução:
A Dignidade e os Riscos da Vocação
O
ministério pastoral é uma das mais altas e sagradas vocações concedidas por
Deus à Sua Igreja. O apóstolo Paulo nos exorta a andar de modo digno da vocação
a que fomos chamados (Efésios 4:1), e lista "pastores e mestres" como
dons de Cristo para o aperfeiçoamento dos santos (Efésios 4:11-12).
Precisamente por ser um chamado tão sublime, ele está cercado de tentações
sutis e perigosas que podem desviar um homem de seu propósito original.
Analisar
os erros comuns não é um ato de mera crítica, mas um chamado à vigilância e ao
arrependimento. É olhar para dentro do ministério e identificar as armadilhas
que o inimigo tem usado para neutralizar líderes, enfraquecer igrejas e manchar
o nome de Cristo. Abaixo, refletimos sobre dez desses desvios, agrupados por
áreas de tentação.
1. O
Coração do Pastor: Quando o Chamado se Torna Carreira
A
primeira e talvez mais perigosa área de tentação é a do coração, onde a vocação
celestial é trocada por uma carreira terrena. Isso se manifesta de várias
formas:
- Criar Raízes e
Perder a Mobilidade Missionária: Pastores que,
esquecendo-se da natureza itinerante do chamado, criam raízes tão
profundas em uma cidade — comprando casas, terrenos e investindo em uma
vida estável — que se tornam indispostos a se mover para onde Deus os
enviar. O conforto local anula a vocação universal.
- Tornar-se
Financeiramente Dependente: Essa tendência se
agrava quando as raízes são fincadas em "solos promissores":
igrejas grandes, estruturadas e com boa remuneração. O pastor, temendo
perder sua posição e sustento, torna-se subserviente aos membros. Ele
perde a coragem de confrontar o pecado, deixa de aplicar a disciplina
bíblica e, em alguns sistemas de governo, pode até fazer campanhas veladas
para garantir sua permanência.
- Adotar o
Corporativismo: Este é o resultado final da mentalidade
de "emprego". Pastores defendem outros pastores, mesmo diante de
erros graves, para não colocar em risco a estabilidade da
"classe". A lealdade ao colega suplanta a lealdade à saúde da
Igreja de Cristo. Igrejas são fragilizadas e destruídas enquanto o
corporativismo protege os lobos em pele de cordeiro.
2. A
Prática do Pastor: Quando o Cuidado se Torna Controle
O
segundo campo de batalha é a prática ministerial diária, onde o serviço humilde
pode ser pervertido em um desejo por controle e protagonismo.
- Monopólio de
Funções: Em muitas igrejas, o pastor centraliza
todas as decisões e atividades. Ele deixa de incentivar o surgimento de
novas lideranças ou o trabalho das sociedades internas, pois teme que
outros possam ganhar destaque e "roubar sua cena". Ao fazer isso,
ele sufoca os dons que o Espírito Santo distribuiu na congregação.
- "Pulpitolatria"
e o Medo da Concorrência: O zelo pelo púlpito é
bíblico, mas tem sido usado como pretexto para uma idolatria do cargo.
Pastores que temem ser superados em conhecimento ou didática simplesmente
não entregam o púlpito a mais ninguém. Eles dirigem o louvor, fazem as
leituras, oram e pregam. Sob o pretexto de zelar pela liturgia, eles criam
a impressão de que possuem uma "unção especial", como um sumo
sacerdote do Antigo Testamento, sendo o único digno de ministrar a
Palavra.
3. A
Relação do Pastor: Quando a Humildade é Trocada pelo Orgulho
A
maneira como um pastor se relaciona com seu rebanho revela muito sobre seu
caráter. A falta de humildade gera feridas profundas.
- Ter Preferências
no Rebanho: É um erro recorrente e doloroso. O
pastor se aproxima de algumas famílias, geralmente as mais influentes ou
que lhe são mais agradáveis, e negligencia as demais. Enquanto alguns
recebem visitas constantes, outros passam anos sem ver o pastor em sua
casa.
- Ignorar o Desgaste
Natural do Ministério: Nenhum ministério em um
mesmo local dura para sempre sem enfrentar desafios. O pastor precisa ter
a humildade de reconhecer os sinais de desgaste natural: quando as coisas
começam a não andar bem, membros valiosos começam a sair, as mensagens se
tornam repetitivas e a aprovação da congregação diminui. Insistir em algo
que já não funciona bem, por teimosia ou apego ao cargo, é levar a igreja
à estagnação e decadência. Nenhum ministério é imune ao desgaste.
- Ignorar Críticas e
a Cegueira do Orgulho Enquanto o desgaste pode ser um
processo natural, a recusa em ouvir críticas é um problema de caráter.
Muitos pastores se envaidecem com os elogios, mas desprezam as críticas,
mesmo as construtivas. O membro que ousa apontar uma falha é imediatamente
taxado de "rebelde" ou "problemático". Em vez de usar
a crítica como uma oportunidade para melhorar, o pastor orgulhoso entra em
embate, despreza o crítico e se fecha em sua própria infalibilidade.
4. A
Formação do Pastor: Quando a Erudição Suplanta a Piedade
Existe
uma tensão crescente entre a preparação acadêmica e a vocação pastoral prática.
- Formar Teólogos,
não Pastores: A frase é célebre: "Seminário não
forma pastor, forma teólogo". A busca pelo conhecimento é
fundamental, mas tem se tornado um fim em si mesma. O cuidado de ovelhas e
o evangelismo são vistos com desdém por aqueles que acumulam mestrados e
doutorados. Com tanto preparo acadêmico, esses "superpreparados"
se sentem dignos apenas de igrejas grandes e estruturadas, recusando-se a
ir para campos simples e periféricos onde o verdadeiro trabalho pastoral é
desesperadamente necessário. Eles se esquecem que os apóstolos, embora
dedicados à Palavra, eram evangelistas ferozes que fundaram igrejas e
cuidaram do rebanho de Deus.
5. A
Autoridade do Pastor: Quando Manuais Substituem a Bíblia
A
fonte de autoridade do pastor deve ser a Palavra de Deus, mas muitos têm
trocado as Escrituras por regulamentos e manuais.
- O Farisaísmo dos
Manuais: Pastores se tornam peritos em cada
vírgula do manual de sua denominação, mas esquecem os princípios bíblicos
de graça, perdão e amor. Eles usam artigos e alíneas para esconder erros,
difamar irmãos do púlpito e exercer um poder tirânico sobre a igreja. A
Palavra que chama a "oferecer a outra face" é substituída por um
artigo que permite esmagar um oponente. Essa troca revela um abandono da
autoridade espiritual em favor do poder burocrático.
Conclusão:
Um Chamado ao Retorno
Esses
desvios são um sintoma de um problema mais profundo: o esquecimento do modelo
do Sumo Pastor, Jesus Cristo. Ele não criou raízes, não buscou seu próprio
conforto, não controlou com mão de ferro, não desprezou os simples, não ignorou
os sofredores e sua única regra de fé e prática foi a vontade do Pai.
A cura
para esses males não está em novos métodos ou estratégias, mas em um retorno
sincero ao coração da vocação pastoral: amar a Deus acima de tudo e amar Suas
ovelhas como Cristo as amou.
Que
Deus tenha misericórdia de Sua Igreja e chame seus pastores ao arrependimento e
à renovação de seu primeiro amor.
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