As
Heresias das Testemunhas de Jeová: Uma Análise Teológica
Introdução:
Um Evangelho em Questão e a Defesa da Fé Ortodoxa
A
organização religiosa conhecida como Testemunhas de Jeová, fundada no século
XIX por Charles Taze Russell, apresenta um sistema doutrinário que se afasta
drasticamente dos credos e confissões de fé que unificam a igreja cristã há
séculos. Para a teologia evangélica e reformada, suas doutrinas não representam
uma variante legítima do Cristianismo, mas um sistema teológico distinto que
contradiz os pilares essenciais da fé "que de uma vez por todas foi
entregue aos santos" (Judas 3).
Muitas
das doutrinas apresentadas pela Sociedade Torre de Vigia (STV) como
"verdades restauradas" são, na realidade, reavivamentos de heresias
antigas, como o Arianismo, que foram vigorosamente refutadas pela igreja
primitiva.¹ Este artigo analisará as divergências mais críticas, demonstrando
como elas se interligam para formar um "outro evangelho" (Gálatas
1:8).
I. A
Questão da Autoridade: A Bíblia Subvertida
A
questão fundamental em qualquer sistema teológico é a da autoridade. Para a fé
Reformada, a autoridade final reside unicamente na Escritura (Sola Scriptura).
Para as Testemunhas de Jeová, a autoridade reside, na prática, na interpretação
de sua liderança, o Corpo Governante. Essa subversão da autoridade bíblica se
manifesta de duas formas principais:
1. Análise
Crítica da Tradução do Novo Mundo (TNM)
Em
flagrante contraste com o princípio da Sola Scriptura, a Sociedade Torre
de Vigia produziu a sua própria versão da Bíblia, a Tradução do Novo Mundo
(TNM). Esta tradução não é um mero esforço para tornar o texto mais acessível;
é um projeto deliberado e sistemático para editar e revisar o texto bíblico com
o propósito específico de o alinhar com a teologia pré-concebida do grupo.10
Em vez de conformar as suas crenças à Escritura, a STV alterou a Escritura para
se conformar às suas crenças. O anonimato dos seus tradutores,
justificado como um ato de humildade para dar crédito a Deus, convenientemente
impede qualquer escrutínio das suas qualificações académicas e protege-os da
responsabilidade pelos seus erros.10
A
estratégia da STV não é simplesmente interpretar a Bíblia de forma diferente; é
recriar a própria fonte de autoridade para que ela valide a sua teologia. A
teologia ortodoxa da Trindade e da divindade de Cristo está profundamente
enraizada em textos bíblicos claros. A teologia da STV, sendo anti-trinitária,
está em conflito direto com estes textos. Em vez de rever a sua teologia, a STV
optou por reescrever os textos. A TNM, portanto, não é primariamente uma
tradução, mas um documento polémico disfarçado de Escritura. A batalha
apologética com as Testemunhas de Jeová começa necessariamente ao nível da
Bibliologia, pois sem expor a corrupção da sua fonte textual, qualquer debate
doutrinário subsequente é dificultado, uma vez que eles operam a partir de um
texto fundamentalmente diferente.
Adulteração
de João 1:1
A
manipulação mais notória na TNM encontra-se em João 1:1. A tradução padrão,
fiel ao grego original (kai theos eˉn ho logos), diz: "...e o Verbo era
Deus." A TNM, no entanto, traduz: "...e a Palavra era [um]
deus".10 Esta alteração é crucial para a STV, pois visa negar a
plena divindade de Jesus Cristo, rebaixando-O a uma divindade menor, em linha
com a antiga heresia ariana. A justificação oferecida pela STV é que a palavra
grega theos (Deus) aparece sem o artigo definido ("o"),
devendo, portanto, ser traduzida com um artigo indefinido ("um").13
Esta
justificação é gramaticalmente insustentável. Vários teólogos e estudiosos do
grego, como Wayne Grudem, refutaram este argumento. A ausência do artigo antes
de um predicado nominal não indica indefinição, mas sim enfatiza a qualidade ou
natureza do sujeito. A chamada "Regra de Colwell" demonstra que um
predicado nominal definido que precede o verbo, como é o caso em João 1:1,
geralmente não tem artigo. A tradução correta, portanto, comunica que o Verbo
possuía a própria natureza de Deus. Além disso, a própria TNM é flagrantemente
inconsistente. No mesmo capítulo, em João 1:6, 12, 13 e 18, a palavra theos
aparece sem o artigo, e em nenhum desses casos a TNM a traduz como "um
deus".10 Esta tradução seletiva e inconsistente revela que a
motivação não é a fidelidade gramatical, mas a imposição de um viés teológico.10
Adulteração
de Colossenses 1:16-17
Outra
manipulação textual flagrante ocorre em Colossenses 1:16-17, onde o Apóstolo
Paulo exalta a supremacia de Cristo na criação. O texto grego afirma que
"nele foram criadas todas as coisas". A TNM, no entanto, insere a
palavra "[outras]" quatro vezes, sem qualquer base no texto original:
"porque por meio dele todas as [outras] coisas foram criadas nos céus e na
terra...".15 Esta inserção deliberada é projetada para apoiar a
sua doutrina de que Jesus é um ser criado (o Arcanjo Miguel). Ao adicionar
"[outras]", eles transformam Cristo de Criador de todas as
coisas em um mero agente que criou as outras coisas, implicando que ele
próprio foi a primeira criação. Isto é uma perversão textual direta que
subverte um dos testemunhos mais poderosos da Bíblia sobre a divindade e o
poder criador de Cristo.10
Outras
Manipulações Sistemáticas
As
alterações não se limitam a estes dois exemplos. A TNM exibe um padrão de
manipulação para se adequar a todo o espectro da sua teologia:
·
O termo grego staurós ("cruz")
é consistentemente traduzido como "estaca de tortura" para se alinhar
com a sua crença de que Jesus não foi crucificado numa cruz.10
·
As palavras hebraicas e gregas para o lugar dos
mortos e do juízo (Sheol, Hades, Geena) nunca são
traduzidas como "inferno", para apoiar a sua doutrina do
aniquilacionismo (a cessação da existência para os ímpios).5
·
A palavra grega parousia
("vinda", "chegada") é traduzida como "presença"
para apoiar a sua doutrina de que Cristo regressou invisivelmente em 1914.5
A
tabela seguinte ilustra a natureza sistemática destas alterações e o seu
impacto teológico:
Versículo |
Tradução
Padrão (ARA) |
Tradução
do Novo Mundo (TNM) |
Análise
da Alteração e Impacto Teológico |
João
1:1c |
"...e
o Verbo era Deus." |
"...e
a Palavra era [um] deus." |
Nega
a plena divindade de Cristo, rebaixando-O a uma divindade menor, em linha com
a heresia ariana. |
Colossenses
1:16 |
"...nele
foram criadas todas as coisas..." |
"...por
meio dele todas as [outras] coisas foram criadas..." |
A
inserção de "[outras]" transforma Cristo de Criador soberano em um
agente criado, minando a Sua eternidade e poder. |
Tito
2:13 |
"...nosso
grande Deus e Salvador, Cristo Jesus," |
"...do
grande Deus e do Salvador, Cristo Jesus," |
A
TNM insere um artigo para separar "Deus" de "Salvador, Cristo
Jesus", obscurecendo uma clara atribuição de divindade a Jesus. |
Hebreus
1:8 |
"Mas,
a respeito do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre..." |
"Mas,
com referência ao Filho, ele diz: ‘Deus é o seu trono para todo o
sempre...’" |
Altera
a vocação direta de "ó Deus" para o Filho, transformando Deus no
"trono" do Filho, uma tradução gramaticalmente forçada para evitar
chamar Jesus de Deus. |
2. O
Corpo Governante como Autoridade Final
A STV
ensina que seus seguidores não podem compreender a Bíblia corretamente sem a
orientação das publicações da Torre de Vigia, produzidas pelo "Escravo
Fiel e Discreto", o Corpo Governante.⁵ Isso cria uma dependência total da
organização, efetivamente colocando as palavras de homens acima da própria
Escritura e contradizendo a clareza da mensagem da salvação para todo leitor
sincero.
Texto
da Revista A Sentinela (Edição de Estudo), 15 de julho de 2013
Título
do artigo: “Quem é realmente o escravo fiel e discreto?”
O
artigo analisa a passagem de Mateus 24:45-47 e esclarece quem é o
"escravo", quem são os "domésticos" e o que é o
"alimento".
Quem é
o escravo?
O
artigo conclui que o "escravo" não se refere a todos os cristãos
ungidos na Terra, mas a um grupo específico que forma o Corpo Governante.
Parágrafo
17:
"O contexto da ilustração do escravo fiel e discreto mostra que ela
começou a se cumprir não na descida do espírito santo no Pentecostes de 33 EC,
mas neste tempo do fim. (...) O escravo é composto do pequeno grupo de irmãos
ungidos que servem na sede mundial durante a presença de Cristo. Esse grupo
constitui o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. "
Quem
são os "domésticos"?
Os
"domésticos" são todos aqueles que recebem o alimento espiritual, ou
seja, todas as Testemunhas de Jeová.
Parágrafo
19:
"Quem, então, são os domésticos? Em poucas palavras, são os que são
alimentados. No primeiro século, todos os cristãos eram domésticos; hoje,
também. Assim, tanto o grupo dos ungidos como a grande multidão das outras
ovelhas compõem os domésticos. (João 10:16) Ambos os grupos recebem o oportuno
alimento espiritual preparado pelo escravo."
A
designação em 1919
O
artigo reafirma a crença de que Jesus inspecionou e designou esse
"escravo" em 1919 para cuidar de seus bens.
Parágrafo
13:
"A história mostra que, em 1919, dois anos depois de ter começado a
inspecionar os que professavam ser seus seguidores, Cristo encontrou um pequeno
grupo de estudantes da Bíblia ungidos que estava dando alimento no tempo
apropriado. (...) Ele os designou sobre todos os seus bens."
Parágrafo
22 (em parte): "Concluímos que o escravo fiel e
discreto é um pequeno grupo de irmãos ungidos que servem como Corpo Governante
das Testemunhas de Jeová. Eles têm a enorme responsabilidade de supervisionar a
obra do Reino e de preparar e distribuir o alimento espiritual durante a
presença de Cristo."
A
Sentinela de 1 de agosto de 1982, página 27, parágrafo 12, no
artigo "A Unidade Cristã — Como é Mantida?", é o seguinte:
"Portanto,
a Bíblia é um livro de organização e pertence à congregação cristã como
organização, não a indivíduos, por mais sinceros que creiam ser em poder
interpretar a Bíblia. Por esta razão, a Bíblia não pode ser devidamente
entendida sem se ter em mente a organização visível de Jeová."
A
doutrina apresenta que a compreensão correta da Bíblia está
intrinsecamente ligada à "organização visível de Jeová" (o termo que
usam para se referir à estrutura organizacional liderada pelo Corpo
Governante).
A implicação
lógica dentro da teologia das Testemunhas de Jeová: se alguém não pode
entender a Bíblia corretamente sem a organização, e o entendimento correto é
necessário para a salvação, então, seguir a orientação da organização se torna
um requisito para a vida eterna.
É
importante notar que a linguagem usada nas publicações é frequentemente de
forte expectativa e sugestão, em vez de uma declaração dogmática e inequívoca.
II. A
Doutrina de Deus: A Rejeição da Trindade
O
ponto central da divergência teológica reside na doutrina da Trindade. As
Testemunhas de Jeová rejeitam veementemente a crença em um só Deus subsistente
em três Pessoas coeternas e coiguais: Pai, Filho e Espírito Santo. Em seus
escritos, chegam a afirmar:
"Satanás
deu origem à doutrina da trindade."⁶ "Ninrode casou-se com sua mãe
Semíramis, e assim, num sentido, ele é seu próprio pai e seu próprio filho.
Aqui está a origem da doutrina da trindade."⁷
Essa
visão é, na verdade, uma ressurreição da antiga heresia do Arianismo, condenada
no Concílio de Niceia em 325 d.C. Em contraste, a fé cristã histórica, como
define o teólogo reformado Louis Berkhof, é essencialmente trinitária:
"A
Igreja Cristã confessa a sua fé num Deus triúno. Ela crê que o único,
verdadeiro e vivo Deus é um em essência ou substância, mas existe em três
Pessoas."⁸
A
Bíblia revela essa unidade na pluralidade desde o Antigo Testamento (Gênesis
1:26; Isaías 48:16) e a torna explícita no Novo, como no batismo de Jesus
(Mateus 3:16-17) e na Grande Comissão (Mateus 28:19), onde o batismo é ordenado
"em nome [singular] do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo."
A
tabela a seguir demonstra como atributos divinos são aplicados às três Pessoas
da Trindade nas Escrituras:
Atributo |
O
Pai |
O
Filho |
O
Espírito |
Onipresente |
Jeremias
23:24 |
Efésios
1:20-23 |
Salmos
139:7 |
Onipotente |
Gênesis
17:1 |
Apocalipse
1:8 |
Romanos
15:19 |
Onisciente |
Atos
15:18 |
João
21:17 |
1
Coríntios 2:10 |
Criador |
Gênesis
1:1 |
João
1:3 |
Jó
33:4 |
Eterno |
Romanos
16:26 |
Apocalipse
22:13 |
Hebreus
9:14 |
III. A
Pessoa de Cristo: Um Messias Reduzido a Criatura
Como
consequência da negação da Trindade, a Cristologia das Testemunhas de Jeová
reduz Jesus a um ser criado. Eles ensinam que:
"Ele
não era Jeová Deus, mas estava ‘existindo na forma de Deus’. Como assim? Ele
era uma pessoa espiritual... poderoso, mas não todo-poderoso como o é Jeová
Deus... foi o primeiro filho que Jeová Deus trouxe à existência."⁹
Esta
doutrina, que identifica Jesus como o Arcanjo Miguel em sua existência
pré-humana, é frontalmente contrária ao testemunho bíblico sobre a plena
divindade de Cristo. As Escrituras afirmam que Cristo é:
·
Chamado de Deus: Tomé
o confessa como "Senhor meu e Deus meu!" (João 20:28), e o Pai se
dirige a Ele dizendo: "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre"
(Hebreus 1:8). Paulo o chama de "nosso grande Deus e Salvador, Cristo
Jesus" (Tito 2:13).
·
Possuidor de Atributos Divinos: Ele é
eterno (Miquéias 5:2; João 8:58), onipotente (Mateus 28:18) e o Criador de
todas as coisas (João 1:3; Colossenses 1:16).
·
Digno de Adoração: Os
anjos são ordenados a adorá-Lo (Hebreus 1:6), algo devido somente a Deus
(Apocalipse 22:8-9).
A
divindade de Cristo não é um ponto teológico negociável. Como resume Wayne
Grudem: "Se Jesus não é Deus, então não podemos ser salvos. Pois se Jesus
não é Deus, ele não poderia ter suportado a pena pelos nossos pecados."¹⁰
A infinita ofensa do pecado contra um Deus infinito requer um sacrifício de
valor infinito, algo que somente o próprio Deus encarnado poderia oferecer.
IV. O
Espírito Santo: Uma Pessoa Divina ou Uma Força Impessoal?
De
forma consistente com sua teologia, as Testemunhas de Jeová negam a
personalidade e a divindade do Espírito Santo, considerando-o meramente a
"força ativa" de Jeová, uma energia impessoal como a eletricidade.
No
entanto, as Escrituras atribuem ao Espírito Santo todas as características de
uma pessoa:
·
Ele possui intelecto:
"perscruta... as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2:10-11).
·
Ele possui vontade:
distribui os dons "como quer" (1 Coríntios 12:11).
·
Ele possui emoções: pode
se "entristecer" (Efésios 4:30).
·
Ele realiza ações pessoais:
ensina (João 14:26), testifica (João 15:26), guia (Romanos 8:14) e intercede
(Romanos 8:26).
A
passagem de Atos 5:3-4 é crucial: mentir ao Espírito Santo é explicitamente
equiparado a mentir a Deus, demonstrando Sua divindade e personalidade. O
teólogo R.C. Sproul enfatiza que o Espírito Santo "é uma Pessoa que tem
uma mente, que tem uma vontade, que tem afeições. Ele é Aquele que nos
regenera, que nos santifica, que nos consola."¹¹
V. A
Doutrina da Salvação: Graça ou Obras e Lealdade?
A
soteriologia (doutrina da salvação) da STV é a antítese do Evangelho da graça.
A salvação não é um dom gratuito, mas um objetivo a ser alcançado através de um
sistema de obras e lealdade inquestionável à organização. A vida eterna depende
do proselitismo de porta em porta e da obediência ao Corpo Governante.
Além
disso, eles propõem um sistema de duas classes: uma elite de 144.000
"ungidos" que irão para o céu, e a vasta maioria, a "grande
multidão", que espera viver para sempre num paraíso terrestre e não tem
Cristo como seu mediador direto.
Em
contraste direto, a teologia evangélica e reformada defende a salvação resumida
nos Cinco Solas da Reforma:
·
Sola Gratia (Somente
pela Graça): A salvação é um dom totalmente imerecido de Deus.
·
Sola Fide (Somente
pela Fé): Este dom é recebido unicamente pela fé em Cristo.
·
Solus Christus (Somente
Cristo): A Sua obra na cruz é a base única e suficiente para a salvação.
A
clareza de Efésios 2:8-9 desmantela o sistema da STV: "Porque
pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;
não de obras, para que ninguém se glorie."
VI - Erros
de datas
1.
Para 1914 (Fim dos Tempos dos Gentios)
A
crença não era exatamente a "volta de Jesus" (pois acreditavam que
sua presença ou parousia já havia começado de forma invisível em 1874,
um entendimento que foi ajustado mais tarde), mas sim que 1914 marcaria o fim
dos "Tempos dos Gentios" e o início da grande tribulação.
Fonte: Zion's
Watch Tower and Herald of Christ's Presence (Torre de Vigia de Sião e
Arauto da Presença de Cristo), de 15 de janeiro de 1894, página 1677 (numeração
da compilação de volumes).
O
texto nesta referência não está em um único parágrafo que diz "o fim virá
em 1914", mas o contexto do artigo e de outros escritos da época aponta
para essa data como o clímax. Um exemplo do raciocínio está na edição de julho
de 1894, página 1677 (reimpressão), que afirma:
Texto
(traduzido do inglês): "Não vemos razão para mudar os
números — nem poderíamos mudá-los se quiséssemos. Eles são, cremos, datas de
Deus, não nossas. Mas lembrem-se que o fim de 1914 não é a data para o começo,
mas para o fim do tempo de angústia." ("We see no reason for changing the
figures—nor could we change them if we would. They are, we believe, God's
dates, not ours. But bear in mind that the end of 1914 is not the date for the
beginning, but for the end of the time of trouble.")
2.
Para 1925 (Ressurreição dos Patriarcas)
A
expectativa para 1925 não era a volta de Jesus, mas o início da ressurreição
terrestre dos "príncipes" ou homens fiéis do passado (como Abraão,
Isaque e Jacó), o que marcaria o início visível do Reino de Deus na Terra.
Fonte: A
Sentinela de 1º de março de 1923, página 106 (edição em inglês,
encadernada).
O
artigo discute o cumprimento do tipo e antítipo da lei do Jubileu.
Texto
(traduzido do inglês): "A data de 1925 é ainda mais
distintamente indicada pelas Escrituras porque é fixada pela lei de Deus a
Israel. (...) Visto que o grande ciclo do Jubileu consiste de 70 jubileus de 50
anos cada, ou 3.500 anos, e que esse período começa em 1575 a.C., ele deve
terminar em 1925 d.C. Nesta data, o tipo termina e o grande antítipo deve
começar. Que se deve esperar, portanto? No tipo devia haver uma restauração
completa; portanto, o grande antítipo deve marcar o início da restauração de
todas as coisas. A principal coisa a ser restaurada é a raça humana à vida; e
visto que a Bíblia distintamente declara que Abraão, Isaque, Jacó e outros
fiéis do passado serão os primeiros a receber esse favor, podemos esperar que
1925 testemunhará o retorno desses homens fiéis da condição de morte, sendo
ressuscitados e completamente restaurados à perfeita humanidade e tornando-se
os representantes visíveis e legais da nova ordem de coisas na terra."
3.
Para 1975 (Fim de 6.000 anos de história humana)
A
expectativa para 1975 foi construída sobre a ideia de que 6.000 anos da
existência humana terminariam naquele ano, dando início ao sétimo período de
mil anos (o reinado de Cristo), análogo ao sábado de descanso de Deus.
Fonte: A
Sentinela de 15 de fevereiro de 1969, página 115 (parágrafo 15, edição em
português, encadernada).
O
texto usa uma linguagem sugestiva, criando um forte senso de urgência e
possibilidade, embora inclua ressalvas.
Texto: "Significa
isso que o sétimo dia de mil anos de Deus começa em 1975? Poderia ser. Poderia
ser. Todas as coisas são possíveis a Deus. Significa que o Armagedom vai ser
acabado, com Satanás amarrado, até 1975? Poderia ser. Poderia ser. Mas, nós não
estamos dizendo isso. Todas as coisas são possíveis a Deus. Mas, não estamos
dizendo isso. Que ninguém seja específico em declarar o que vai acontecer entre
agora e 1975. Mas, a coisa principal é esta, caros amigos: O tempo é curto. O
tempo está-se esgotando, não resta dúvida sobre isso."
Esses
trechos mostram como as expectativas foram construídas em cada período, usando
diferentes linhas de raciocínio bíblico e cronológico para apontar para datas
específicas com grande significado escatológico.
Os ajustes
dos erros
A
forma como a organização das Testemunhas de Jeová lida com as expectativas não
cumpridas é um aspecto central de sua teologia e história. Eles não se referem
a esses eventos como "erros proféticos", mas sim como "ajustes"
de entendimento ou "expectativas equivocadas" baseadas num
zelo sincero.
A
correção é explicada através de uma combinação de conceitos teológicos e
justificativas. Aqui estão os principais métodos utilizados em suas publicações
para explicar essas correções:
1. O
Conceito da "Luz Progressiva" (A Principal Explicação)
Esta é
a base teológica para todas as mudanças doutrinárias. Eles aplicam o texto de Provérbios
4:18: "Mas a vereda dos justos é como a luz clara que clareia mais
e mais até o dia estar firmemente estabelecido."
·
Como aplicam: Eles
ensinam que Jeová não revela toda a verdade de uma só vez. A compreensão das
Escrituras é um processo gradual. Portanto, os entendimentos antigos não eram
"errados", mas sim uma visão mais "escura" ou inicial da
verdade. Os "ajustes" posteriores são vistos como um "aumento da
luz", ou seja, uma revelação mais clara e precisa da vontade de Deus.
Exemplo
em publicação (sobre o entendimento geral de doutrinas):
A
Sentinela, 15 de fevereiro de 2017, no artigo "Adore a Deus em
espírito e em verdade", explica: "No primeiro século, os cristãos não
entendiam todos os detalhes sobre o Reino. O mesmo acontece nos nossos dias.
(...) Nós estamos dispostos a esperar pacientemente que a luz da verdade sobre
os propósitos de Jeová fique cada vez mais clara."
2.
Reinterpretação do Significado da Data (O Caso de 1914)
Em vez
de descartar uma data importante, eles frequentemente redefinem seu
significado. O caso de 1914 é o exemplo mais bem-sucedido dessa abordagem.
·
O que se esperava: O fim
do "tempo dos gentios", que levaria ao fim do sistema mundial e à
glorificação da Igreja.
·
Como foi corrigido:
Quando o fim visível não veio, o entendimento foi "ajustado". A data
de 1914 foi mantida, mas seu significado mudou: em vez de ser o fim
do mundo, tornou-se o ano em que Jesus começou a reinar invisivelmente
no céu. Assim, 1914 passou a marcar o começo dos "últimos
dias", e não o seu fim.
3.
Atribuição ao Zelo Humano e à expectativa ansiosa
Para
datas como 1925 e 1975, que não puderam ser facilmente reinterpretadas, a
explicação se concentra no fator humano. A liderança e os membros são descritos
como excessivamente zelosos e ansiosos, "correndo na frente" da
orientação de Jeová.
·
Como explicam: As
publicações admitem o desapontamento, mas atribuem o erro a expectativas
humanas prematuras, e não a uma falha da parte de Deus ou de seu "canal de
comunicação".
Exemplo
em publicação (sobre 1975): O livro Testemunhas de Jeová —
Proclamadores do Reino de Deus (1993), na página 633, aborda a questão de
1975 de forma cândida:
"Sem
dúvida, declarações feitas naquela época abriram o caminho para as expectativas
que surgiram em torno da data de 1975. (...) Infelizmente, porém, junto com
essas informações de alerta, foram publicadas outras declarações que davam a
entender que a realização das esperanças naquele ano era mais uma probabilidade
do que uma mera possibilidade."
O
mesmo livro, mais adiante, cita uma Sentinela de 1980 que admitiu:
"Aprende-se
com os erros do passado. É preciso ter mais cuidado no futuro, para que nossas
publicações não deem a entender que certos acontecimentos se darão em uma data
específica."
4. O
Evento Como um "Teste de Fé" ou "Peneiramento"
Outra
explicação é que esses períodos de desapontamento servem como um teste para
separar os verdadeiros fiéis daqueles com motivações erradas.
·
A lógica:
Aqueles que serviam a Deus apenas por causa de uma data se afastariam, enquanto
os que tinham uma fé genuína e lealdade à organização permaneceriam. Isso
transforma um evento negativo (uma previsão falha) em um processo positivo de
purificação do povo de Deus.
Em
resumo, as correções são feitas através de um sistema que permite mudanças
doutrinárias sem invalidar a autoridade da liderança. As falhas são atribuídas
à imperfeição humana e à natureza progressiva da revelação divina, mantendo a
crença de que o "Corpo Governante" continua a ser o único canal que
Deus usa para guiar seu povo.
VII - A
questão do sangue
1. A
Sentinela de 1º de fevereiro de 2011, p. 27
Esta
página faz parte da seção "Perguntas dos Leitores". O artigo discute
procedimentos médicos que envolvem o uso do próprio sangue do paciente. Ao
estabelecer a base para a sua decisão, o texto reafirma a proibição fundamental
sobre o sangue.
Texto: "Para
as Testemunhas de Jeová, a questão fundamental é bem simples: a Bíblia ordena
que nos abstenhamos de sangue. (Atos 15:20; 21:25) O que isso significa? Pense
no seguinte: se um médico lhe dissesse para se abster de álcool, você não o
injetaria nas suas veias, não é mesmo? Da mesma forma, abster-se de sangue
significa não o introduzir em nosso corpo de modo algum. Assim, essa ordem
bíblica descarta a transfusão de sangue total ou de qualquer um dos seus
componentes primários (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e
plasma)."
Análise: Este
trecho mostra claramente a interpretação de que o mandamento bíblico para
"abster-se de sangue" não se limita a não o comer, mas inclui a
proibição de introduzi-lo no corpo por qualquer meio, como as transfusões.
2. A
Sentinela de 1º de março de 1989, pp. 30-31
Esta
edição, também na seção "Perguntas dos Leitores", aborda diretamente
a seriedade da questão e porque a recusa em se arrepender de ter tomado sangue
leva à desassociação (excomunhão).
Texto
(página 30): "Considere a situação em que um
cristão, apesar de conselho e ajuda, aceita uma transfusão de sangue. [...] A
pessoa que deliberada e impenitentemente aceita sangue demonstra por suas ações
que não mais deseja viver segundo os padrões de Deus. Se ela rejeita a Deus e
seu arranjo, não é apropriado que continue a ser membro da congregação cristã.
[...] Por outro lado, que dizer se um cristão aceitou uma transfusão de sangue
por ter ficado enfraquecido e sob extrema pressão? Depois, porém, ele lamenta o
que fez e se arrepende. Neste caso, sua contrição e arrependimento sinceros
seriam levados em conta."
Análise: Este
texto é inequívoco ao tratar a aceitação de uma transfusão de sangue como um
pecado grave. Ele estabelece que, se a pessoa não se arrepender, ela se
dissocia da congregação por suas próprias ações, mostrando que a obediência a
esse mandamento é um requisito para ser uma Testemunha de Jeová.
A Base
Bíblica Para a Doutrina
A
posição das Testemunhas de Jeová baseia-se principalmente em três passagens
bíblicas, que elas interpretam como uma lei divina universal e perpétua sobre a
santidade do sangue:
1. Gênesis
9:4:
Após o Dilúvio, Deus permitiu que Noé comesse carne, mas ordenou: "Somente
não comam a carne com seu sangue".
2. Levítico
17:10-14: A Lei Mosaica proibia o consumo de sangue, afirmando que
"a vida da carne está no sangue".
3. Atos
15:28, 29: O decreto dos apóstolos para os cristãos gentios ordenou
que 'se abstivessem de coisas sacrificadas a ídolos, de sangue, do que foi
estrangulado e de imoralidade sexual'.
Elas
consideram o mandamento em Atos como uma ordem tão fundamental quanto a de
evitar a idolatria e a imoralidade sexual, aplicando-a, portanto, ao
procedimento médico moderno da transfusão de sangue.
O
ensinamento delas é que a morte é um estado de total inconsciência, como um
sono sem sonhos, até que Deus ressuscite a pessoa no futuro.
Refutação:
Nada de fora que entra na boca contamina espiritualmente.
Na
teologia reformada, as proibições bíblicas sobre o consumo de sangue são
compreendidas dentro de seu contexto teológico e pactual, e não como uma lei
dietética perpétua para os cristãos. Consequentemente, a proibição de
transfusões de sangue, que é uma inferência moderna, não encontra suporte nesta
tradição teológica. A chave é a distinção entre a lei cerimonial do Antigo
Testamento e a lei moral, e a compreensão da obra consumada de Cristo.
As
proibições originais, como em Gênesis 9:4 e Levítico 17:11
("Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o
altar, para fazer expiação pela vossa alma"), tinham um propósito
tipológico e cerimonial. O sangue representava a vida, que pertencia a Deus, e
era o elemento central do sistema sacrificial para a expiação dos pecados.
Abster-se do sangue era um constante lembrete de que o pecado exigia a morte (o
derramamento de vida) e apontava para o sacrifício final que estava por vir.
Com a
vinda de Cristo, o sistema sacrificial foi cumprido e tornado obsoleto. Hebreus
9:12 afirma que Cristo entrou no Santo dos Santos "não por meio de
sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, tendo obtido eterna
redenção". O sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus, cumpriu perfeitamente
tudo o que os sacrifícios de animais simbolizavam. Assim, a base teológica para
a proibição cerimonial de ingerir sangue foi removida. O próprio Jesus,
conforme Marcos 7:19, "considerou puros todos os alimentos".
O
teólogo Wayne Grudem, em sua "Teologia Sistemática", ao
abordar as leis do Antigo Testamento, explica que as leis cerimoniais não são
mais obrigatórias para os crentes do Novo Testamento, pois seu propósito de
apontar para Cristo foi cumprido. A proibição do sangue se enquadra nesta
categoria.
A
passagem mais desafiadora, Atos 15:29, onde o Concílio de Jerusalém
instrui os gentios a se absterem de "coisas sufocadas e do sangue", é
interpretada pela maioria dos teólogos reformados não como uma lei moral
eterna, mas como uma concessão pastoral. Como João Calvino explica em
seus comentários, o objetivo era promover a paz e a unidade na igreja
primitiva. Para os crentes judeus, o consumo de sangue era profundamente
ofensivo. A recomendação era uma questão de sensibilidade e amor ao próximo,
para não criar um "tropeço" (conforme o princípio de Romanos
14:14-15), e não a instituição de uma nova lei dietética universal.
Quanto
às transfusões de sangue, a teologia reformada as vê como uma questão
completamente distinta. R.C. Sproul e outros eticistas reformados
enfatizam a diferença entre comer sangue como alimento e receber uma transfusão
como um procedimento médico. Uma transfusão não é um ato de alimentação, mas um
transplante de tecido líquido para preservar a vida, que é um dom de Deus.
Rejeitar um procedimento que salva vidas com base em uma lei cerimonial
cumprida seria aplicar erroneamente as Escrituras e desconsiderar o mandato de
cuidar da vida.
Portanto,
a perspectiva reformada afirma a liberdade do cristão em Cristo sobre as leis
dietéticas do Antigo Testamento e vê a transfusão de sangue como um meio
legítimo e moralmente bom de preservar a vida que Deus nos deu.
“Não
compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e, depois, é
lançado em lugar escuso? Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que
contamina o homem”. Mateus 15:17,18.
“Nada
há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem
é o que o contamina”. Marcos 7:15
“Um
crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o
que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu”
(Romanos 14:2-3).
VIII -
O sono da alma e recriação
Texto
de A Sentinela, 15 de maio de 1995, p. 5
O
artigo nesta página, intitulado "O que acontece na morte?", explica a
condição dos mortos com base na Bíblia.
Texto
(parágrafo 5): "Portanto, o conceito bíblico é
simples e coerente. Não somos criados com uma alma imortal. Ao morrermos,
simplesmente deixamos de existir. A morte é o contrário da vida. Os mortos não veem,
não ouvem, nem pensam. O espírito, ou força de vida, que Deus nos deu por
ocasião da nossa concepção, abandona o corpo. (Salmo 104:29) Por isso, a Bíblia
diz que os mortos ‘não estão cônscios de absolutamente nada’. — Eclesiastes
9:5."
Análise
do Texto:
·
Este parágrafo é muito direto ao afirmar que,
segundo a sua interpretação da Bíblia, a morte é um estado de inexistência
e inconsciência.
·
Ele nega explicitamente a doutrina da
"alma imortal", que é a base da crença na vida após a morte na
maioria das outras religiões.
·
A citação de Eclesiastes 9:5 é
fundamental para a doutrina delas, pois afirma que "os mortos (...) não
estão cônscios de absolutamente nada".
A
Esperança na Ressurreição
É
crucial entender que, para as Testemunhas de Jeová, a negação de uma alma
imortal não significa o fim de toda a esperança. Pelo contrário, a esperança
delas está centrada na promessa bíblica da ressurreição. Elas acreditam
que Deus, em seu devido tempo, trará de volta à vida a maioria das pessoas que
já morreram, para viverem numa Terra paradisíaca (João 5:28, 29; Atos 24:15).
Portanto,
a crença delas pode ser resumida da seguinte forma:
1. No
momento da morte: A pessoa deixa de existir. Não há alma,
espírito ou consciência que sobreviva.
2. No
futuro: Deus usará seu poder para recriar (ressuscitar) a pessoa
com a mesma identidade e personalidade, dando-lhe uma nova vida.
Assim,
elas acreditam em "vida após a morte", mas não de forma imediata e
contínua, e sim através de uma futura intervenção divina.
Refutação:
Jesus
contou uma parábola que explica o lugar das almas (Lc 16.19-31). A parábola do
Rico e Lázaro. Após morto, o destino de cada um é diferente. Lázaro foi para o
seio de Abraão e o rico para o Inferno. Lázaro recebe recompensa e o Rico
recebe punição e de forma consciente. Só existem estes dois destinos descritos
na Bíblia para a alma depois da morte física. Não há espaço para purgatório ou
sono da alma. A alma, segundo o texto, continua em estado de consciência.
Podemos
olhar para o que disse Jesus ao ladrão na cruz: “Hoje estarás comigo no
paraíso” (Lc 23.43). Os Testemunhas de Jeová e Adventistas mudam a
interpretação desse texto para encaixarem em suas doutrinas (em verdade te digo
hoje, estarás comigo no Paraíso). Porém, uma simples interpretação de texto
deixa claro que não há razão para que a pessoa que esteja falando precise falar
do dia que fala (hoje). Como poderia alguém dizer que falaria “amanhã”? Isso
não possui razão lógica e o texto não diz isto. Jesus estava dizendo para o
ladrão que naquele mesmo dia estaria no Paraíso. O ladrão pediu para Jesus
lembrar dele no futuro e a resposta de Jesus é que seria naquele mesmo dia.
Na
transfiguração, onde Moisés e Elias foram vistos conversando com Jesus (Mt
17.1-8). Eles não estavam dormindo. Paulo tinha o desejo de partir e estar com
Cristo. Para ele a morte o levaria, imediatamente, ao encontro de Jesus. Paulo
não teria interesse de morrer e ficar dormindo. Não!! Ele tinha certeza que a
morte o levaria ao encontro de Jesus (Fp 1.21- 23). O Apóstolo também afirma
que preferia deixar o corpo e seu espírito ir morar com o Senhor. 2 Co 5:8
“Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar
com o Senhor”. E ele sabia do que estava falando, pois esteve pessoalmente no
Paraíso (2Co 12.4).
Apocalipse
6.9-11: Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles
que tinham sido mortos pela palavra de Deus e por causa do testemunho que
sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: até quando, ó Soberano Senhor,
santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre
a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram
que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número
dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram.
Apocalipse 7.14-15: “ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande
tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão
por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu
santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu
tabernáculo”. João viu as almas dos crentes mortos no céu. Elas estão lá
conscientes, descansando e esperando o último dia. Não faz sentido pensar que
estivessem dormindo na sepultura.
O
estado em que estão as almas depois da morte, seja o céu ou o Inferno, é
chamado de intermediário porque não corresponde ao local definitivo. Estas
almas aguardam o dia da ressurreição e julgamento. Daniel já dizia: Dn 12:2
diz: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida
eterna, e outros para vergonha e horror eterno”. Após isso, os perdidos irão
para o Lago de Fogo (Ap 20.15), e os salvos para o Novo céu e a nova terra (Ap
21.1).
Deus
não criou o ser humano para viver sem corpo. Para o crente, a doutrina bíblica
do Estado Intermediário é uma grande bênção. Ela nos assegura que o crente não
precisará ficar dormindo, esperando pelo consolo.
IX - O
inferno não existe. Aniquilação dos ímpios
Texto
de "Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra", pp. 81-82
Na página
81, o livro começa a abordar a doutrina do inferno de fogo:
Texto
(p. 81, parágrafo 15): "No entanto, milhões de pessoas
foram ensinadas que os iníquos vão para um inferno de fogo, para serem
atormentados para sempre. É verdade isso? O próprio conceito de se atormentar
pessoas com fogo é detestável para Jeová Deus. Por exemplo, quando os
israelitas, em imitação de povos vizinhos, começaram a queimar seus filhos no
fogo, Deus condenou este ato, dizendo: ‘Coisa que eu não lhes ordenara e que
não me subira ao coração.’ (Jeremias 7:31) Visto que tal prática é detestável
para Deus, será que ele manteria um inferno de fogo e atormentaria pessoas para
sempre nele?"
Na página
82, o texto continua a argumentar contra essa doutrina:
Texto
(p. 82, parágrafos 16-17): "16. ‘Mas a palavra “inferno” não
se encontra na Bíblia?’ talvez pergunte. Sim, encontra-se. Em muitas traduções
da Bíblia, a palavra hebraica ‘Seol’ e a palavra grega ‘Hades’ são traduzidas
‘inferno’. Mas, o que significam realmente estas palavras? (...) A Bíblia
mostra que tanto Seol como Hades não se referem a um lugar de tormento, mas à
sepultura comum da humanidade. 17. E que dizer da palavra grega ‘Geena’? Em
algumas traduções da Bíblia, ela é traduzida ‘inferno’. Na realidade, Geena era
o nome do depósito de lixo fora dos muros de Jerusalém. Jesus usou o fogo que
queimava continuamente neste depósito de lixo como símbolo apropriado de
destruição completa, da qual não há ressurreição. De modo que ele mostrou que
os que pecam deliberadamente e sem arrependimento serão destruídos."
Análise
e Resumo da Doutrina Apresentada:
1. Deus
Odeia a Crueldade: O texto argumenta que a ideia de queimar
pessoas é detestável para Deus, citando Jeremias 7:31 como prova de que tal
pensamento "não lhe subira ao coração".
2. Significado
de "Inferno" (Seol/Hades): As palavras bíblicas
frequentemente traduzidas como "inferno" (Seol em hebraico e Hades em
grego) não se referem a um lugar de tormento, mas simplesmente à sepultura
comum da humanidade, um lugar de inconsciência.
3. Significado
de "Geena": O termo "Geena", também traduzido
como "inferno", era uma referência ao Vale de Hinom, um local físico
fora de Jerusalém usado como depósito de lixo, onde o fogo era mantido para
destruir o lixo. Jesus usou a Geena como um símbolo de destruição eterna e
completa, não de tormento consciente.
4. O
Castigo Final: Para as Testemunhas de Jeová, o castigo final
para os pecadores impenitentes não é a tortura eterna, mas a "segunda
morte" (Apocalipse 21:8), que é a aniquilação ou a inexistência, da
qual não há esperança de ressurreição.
Refutação: A
Terrível Realidade do Inferno: Uma Perspectiva Reformada
Na teologia reformada, o inferno é apresentado não como uma
metáfora, mas como uma realidade solene e terrível, um lugar literal de punição
eterna para os ímpios. Longe de ser um reino governado por Satanás, o inferno é
a manifestação final e assustadora da justiça perfeita e da ira santa de Deus
contra o pecado.
O teólogo R.C. Sproul, em sua obra "A Santidade de
Deus", argumenta que a nossa relutância em aceitar a doutrina do inferno
provém de uma falha em compreender a santidade absoluta de Deus e a gravidade
de nossa ofensa contra Ele. O inferno revela que Deus é justo e não pode, por
Sua própria natureza, deixar o pecado impune. É o lugar onde a Sua justiça é
plenamente satisfeita sobre aqueles que rejeitaram a provisão de Sua
misericórdia. Sproul destaca que o castigo é consciente e eterno, uma
consequência direta da rebelião contra um Deus eterno.
Ecoando essa perspectiva, Joel Beeke, em obras como
"Teologia Puritana: Doutrina para a Vida", explica que os puritanos
viam o inferno como um lugar de tormentos duplos: a pena de perda (a remoção da
presença favorável de Deus e de todo o bem) e a pena de sentido (o sofrimento
ativo da consciência e do corpo). A seriedade com que tratavam o inferno
alimentava a urgência de sua pregação e a sua profunda gratidão pela cruz de
Cristo.
John Piper enfatiza a eternidade do inferno como uma
demonstração do valor infinito da glória de Deus. Pecar contra um Ser de
majestade infinita incorre em uma dívida infinita, que exige uma punição
eterna. Em passagens como Mateus 25:46, Jesus fala de um "castigo
eterno", usando a mesma palavra grega (aionios) para descrever a
duração da punição dos ímpios e da vida dos justos, indicando que ambos são sem
fim.
A realidade do inferno, portanto, não é um tópico
secundário, mas central para a compreensão do evangelho na perspectiva
reformada. É o pano de fundo sombrio que faz a luz da graça de Deus em Jesus
Cristo brilhar com um esplendor inigualável.
Versículos Bíblicos de Referência:
- Mateus 10:28
(ARA): "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma;
temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o
corpo."
- Mateus 25:41, 46
(ARA): "Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e
seus anjos. ... E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para
a vida eterna."
- Marcos 9:47-48
(ARA): "E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor
entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois,
seres lançado no inferno, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se
apaga."
- 2 Tessalonicenses
1:9 (ARA): "Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos
da face do Senhor e da glória do seu poder."
- Apocalipse 20:15
(ARA): "E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse
foi lançado para dentro do lago de fogo."
X – Doutrinas
estranhas
(a) O
Diabo foi o criador da mosca
Fonte: The
Golden Age (A Idade de Ouro), 19 de dezembro de 1923, p. 163, em inglês. O
artigo discute a mosca doméstica, descrevendo-a como uma criatura suja e
perigosa.
Texto Original (em inglês): "There is no doubt that Satan is the original
designer of the housefly, which has 4,000 separate and distinct lenses in each
eye... Its feet are so constructed that it can walk on a polished surface
upside down... It is a germ-carrier of the first order. Verily, the fly is a
child of Beelzebub, the lord of filth."
Tradução:
"Não há dúvida de que Satanás é o projetista original da mosca doméstica,
que tem 4.000 lentes separadas e distintas em cada olho... Suas patas são
construídas de tal forma que ela pode andar de cabeça para baixo em uma
superfície polida... É uma portadora de germes de primeira ordem. Em verdade, a
mosca é uma filha de Belzebu, o senhor da imundície."
Contexto
Atual: Esta foi uma especulação publicada na revista A Idade
de Ouro, conhecida por seus artigos variados sobre ciência e natureza, que
nem sempre refletiam a doutrina oficial. A crença atual é a de que toda a
criação é obra de Deus.
(b)
Transplantes de órgãos ser o mesmo que comer carne humana (canibalismo)
Fonte: The
Watchtower (A Sentinela), 15 de novembro de 1967, p. 702, em inglês.
(Corresponde à edição em português de 1/6/1968). A pergunta era se transplantes
eram biblicamente aceitáveis.
Texto Original (em inglês): "Those who submit to such operations are thus
living on the flesh of another human. That is cannibalistic. However, in
allowing man to eat animal flesh Jehovah God did not grant permission for
humans to try to perpetuate their lives by cannibalistically taking into their
bodies human flesh, whether chewed or in the form of whole organs or body parts
taken from others."
Tradução:
"Aqueles que se submetem a tais operações estão, portanto, vivendo da
carne de outro humano. Isso é canibalismo. No entanto, ao permitir que o homem
comesse carne animal, Jeová Deus não concedeu permissão para que os humanos
tentassem perpetuar suas vidas tomando canibalisticamente em seus corpos carne
humana, seja mastigada ou na forma de órgãos inteiros ou partes do corpo
tiradas de outros."
Contexto
Atual: Esta posição foi mantida de 1967 a 1980. Em A Sentinela
de 15 de março de 1980, a visão foi completamente revertida, e desde então os
transplantes de órgãos são considerados uma questão de consciência pessoal.
(c)
Pessoas seguiam ou não a Deus dependendo do formato do crânio
Fonte: The
Watch Tower (A Torre de Vigia), 15 de março de 1913, pp. 84, 85 (numeração
de volumes encadernados). O artigo discute frenologia, uma pseudociência
popular na época.
Texto
Original (em inglês): "Phrenology is not an exact science...
Nevertheless, the
location of the different faculties of the mind is fairly well established. In
our pictures we have endeavored to show a head developing in the right
direction and one in the wrong direction... Notice in the first head the high
moral and intellectual qualities... In the second head... notice the contrast —
how low the moral sentiments, veneration, etc."
Tradução:
"A frenologia não é uma ciência exata... No entanto, a localização das
diferentes faculdades da mente está razoavelmente bem estabelecida. Em nossas
imagens, nos esforçamos para mostrar uma cabeça se desenvolvendo na direção
certa e uma na direção errada... Observe na primeira cabeça as altas qualidades
morais e intelectuais... Na segunda cabeça... observe o contraste — quão baixos
os sentimentos morais, a veneração, etc."
Contexto
Atual: Esta publicação refletia o interesse pessoal do então
presidente, C. T. Russell, em teorias populares de sua época. A frenologia foi
completamente desacreditada como ciência e nunca mais foi mencionada ou usada
como base para qualquer ensinamento.
(d)
Jesus curava com elétrons
Fonte: The
Golden Age (A Idade de Ouro), 20 de dezembro de 1922, p. 177, em inglês. O
artigo tentava explicar os milagres de Jesus sob a ótica da ciência da época.
Texto Original (em inglês): "The cures which Jesus and the apostles
performed were all accomplished by the use of the life force, which may be
properly termed electronic... In other words, Jesus understood perfectly the
electronic principle of life, and it was by the use of this that he gave sight
to the blind, hearing to the deaf, and life to the dead."
Tradução:
"As curas que Jesus e os apóstolos realizaram foram todas efetuadas pelo
uso da força vital, que pode ser devidamente chamada de eletrônica... Em outras
palavras, Jesus entendia perfeitamente o princípio eletrônico da vida, e foi
pelo uso deste que ele deu visão aos cegos, audição aos surdos e vida aos
mortos."
Contexto
Atual: Outro exemplo de especulação científica da revista A
Idade de Ouro. A crença atual é que Jesus curava pelo poder do espírito
santo de Deus, sem qualquer explicação pseudocientífica.
(e) A
vacinação é um truque cruel de Satanás
Fonte: Consolation
(Consolação), 31 de maio de 1939, p. 3, em inglês. A revista manteve uma forte
posição antivacinação por várias décadas.
Texto Original (em inglês): "Vaccination is a direct violation of the
everlasting covenant that God made with Noah after the flood... It is a cruel,
satanic trick, and will have a bad end."
Tradução:
"A vacinação é uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com Noé
após o dilúvio... É um truque cruel e satânico, e terá um fim ruim."
Contexto
Atual: Esta visão foi abandonada. Em A Sentinela de 15 de
dezembro de 1952, a vacinação passou a ser considerada uma questão de decisão
pessoal. Hoje, as Testemunhas de Jeová não têm nenhuma objeção à vacinação,
tratando-a como uma escolha de saúde individual.
Conclusão:
Um Chamado à Verdade
As
doutrinas da Sociedade Torre de Vigia, quando examinadas à luz das Escrituras,
apresentam um sistema teológico que se desvia em pontos cruciais e não
negociáveis da fé cristã. A negação da Trindade, da plena divindade de Cristo e
da personalidade do Espírito Santo, juntamente com a anulação do evangelho da
graça, leva à conclusão de que se trata de "outro evangelho".
A
tarefa do cristão é "batalhar diligentemente pela fé que de uma vez por
todas foi entregue aos santos" (Judas 3), defendendo a verdade com firmeza
e compaixão, e permanecendo fiel à revelação de Deus em Sua Palavra infalível e
na pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo, nosso grande Deus e Salvador.
Referências
Bibliográficas e Notas de Rodapé
¹ A
doutrina da STV sobre Cristo é funcionalmente idêntica ao Arianismo, uma
heresia do século IV que ensinava que o Filho era a primeira e mais elevada
criatura de Deus, mas não coeterno ou da mesma essência que o Pai.
²
Sociedade Torre de Vigia. Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas.
³
Martin, Walter. O Império das Seitas. 8. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
Martin e outros estudiosos da gramática grega demonstram que a construção de
João 1:1 enfatiza a natureza divina da Palavra, e não que Ele era um
deus menor.
⁴
Sociedade Torre de Vigia. Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas.
⁵
Veja, por exemplo, a revista A Sentinela, 1º de agosto de 1982, p. 27,
que argumenta a necessidade da organização para entender a Bíblia.
⁶
Sociedade Torre de Vigia. Seja Deus Verdadeiro, p. 81.
⁷
Russell, Charles Taze. Estudos das Escrituras.
⁸
Berkhof, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: LPC, 1990, p. 83.
⁹
Sociedade Torre de Vigia. Seja Deus Verdadeiro, pp. 34-35.
¹⁰
Grudem, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 448.
¹¹
Sproul, R.C. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1999.
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