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As Heresias das Testemunhas de Jeová: Uma Análise Teológica

 


As Heresias das Testemunhas de Jeová: Uma Análise Teológica

Introdução: Um Evangelho em Questão e a Defesa da Fé Ortodoxa

A organização religiosa conhecida como Testemunhas de Jeová, fundada no século XIX por Charles Taze Russell, apresenta um sistema doutrinário que se afasta drasticamente dos credos e confissões de fé que unificam a igreja cristã há séculos. Para a teologia evangélica e reformada, suas doutrinas não representam uma variante legítima do Cristianismo, mas um sistema teológico distinto que contradiz os pilares essenciais da fé "que de uma vez por todas foi entregue aos santos" (Judas 3).

Muitas das doutrinas apresentadas pela Sociedade Torre de Vigia (STV) como "verdades restauradas" são, na realidade, reavivamentos de heresias antigas, como o Arianismo, que foram vigorosamente refutadas pela igreja primitiva.¹ Este artigo analisará as divergências mais críticas, demonstrando como elas se interligam para formar um "outro evangelho" (Gálatas 1:8).

I. A Questão da Autoridade: A Bíblia Subvertida

A questão fundamental em qualquer sistema teológico é a da autoridade. Para a fé Reformada, a autoridade final reside unicamente na Escritura (Sola Scriptura). Para as Testemunhas de Jeová, a autoridade reside, na prática, na interpretação de sua liderança, o Corpo Governante. Essa subversão da autoridade bíblica se manifesta de duas formas principais:

1. Análise Crítica da Tradução do Novo Mundo (TNM)

Em flagrante contraste com o princípio da Sola Scriptura, a Sociedade Torre de Vigia produziu a sua própria versão da Bíblia, a Tradução do Novo Mundo (TNM). Esta tradução não é um mero esforço para tornar o texto mais acessível; é um projeto deliberado e sistemático para editar e revisar o texto bíblico com o propósito específico de o alinhar com a teologia pré-concebida do grupo.10 Em vez de conformar as suas crenças à Escritura, a STV alterou a Escritura para se conformar às suas crenças. O anonimato dos seus tradutores, justificado como um ato de humildade para dar crédito a Deus, convenientemente impede qualquer escrutínio das suas qualificações académicas e protege-os da responsabilidade pelos seus erros.10

A estratégia da STV não é simplesmente interpretar a Bíblia de forma diferente; é recriar a própria fonte de autoridade para que ela valide a sua teologia. A teologia ortodoxa da Trindade e da divindade de Cristo está profundamente enraizada em textos bíblicos claros. A teologia da STV, sendo anti-trinitária, está em conflito direto com estes textos. Em vez de rever a sua teologia, a STV optou por reescrever os textos. A TNM, portanto, não é primariamente uma tradução, mas um documento polémico disfarçado de Escritura. A batalha apologética com as Testemunhas de Jeová começa necessariamente ao nível da Bibliologia, pois sem expor a corrupção da sua fonte textual, qualquer debate doutrinário subsequente é dificultado, uma vez que eles operam a partir de um texto fundamentalmente diferente.

Adulteração de João 1:1

A manipulação mais notória na TNM encontra-se em João 1:1. A tradução padrão, fiel ao grego original (kai theos eˉn ho logos), diz: "...e o Verbo era Deus." A TNM, no entanto, traduz: "...e a Palavra era [um] deus".10 Esta alteração é crucial para a STV, pois visa negar a plena divindade de Jesus Cristo, rebaixando-O a uma divindade menor, em linha com a antiga heresia ariana. A justificação oferecida pela STV é que a palavra grega theos (Deus) aparece sem o artigo definido ("o"), devendo, portanto, ser traduzida com um artigo indefinido ("um").13

Esta justificação é gramaticalmente insustentável. Vários teólogos e estudiosos do grego, como Wayne Grudem, refutaram este argumento. A ausência do artigo antes de um predicado nominal não indica indefinição, mas sim enfatiza a qualidade ou natureza do sujeito. A chamada "Regra de Colwell" demonstra que um predicado nominal definido que precede o verbo, como é o caso em João 1:1, geralmente não tem artigo. A tradução correta, portanto, comunica que o Verbo possuía a própria natureza de Deus. Além disso, a própria TNM é flagrantemente inconsistente. No mesmo capítulo, em João 1:6, 12, 13 e 18, a palavra theos aparece sem o artigo, e em nenhum desses casos a TNM a traduz como "um deus".10 Esta tradução seletiva e inconsistente revela que a motivação não é a fidelidade gramatical, mas a imposição de um viés teológico.10

Adulteração de Colossenses 1:16-17

Outra manipulação textual flagrante ocorre em Colossenses 1:16-17, onde o Apóstolo Paulo exalta a supremacia de Cristo na criação. O texto grego afirma que "nele foram criadas todas as coisas". A TNM, no entanto, insere a palavra "[outras]" quatro vezes, sem qualquer base no texto original: "porque por meio dele todas as [outras] coisas foram criadas nos céus e na terra...".15 Esta inserção deliberada é projetada para apoiar a sua doutrina de que Jesus é um ser criado (o Arcanjo Miguel). Ao adicionar "[outras]", eles transformam Cristo de Criador de todas as coisas em um mero agente que criou as outras coisas, implicando que ele próprio foi a primeira criação. Isto é uma perversão textual direta que subverte um dos testemunhos mais poderosos da Bíblia sobre a divindade e o poder criador de Cristo.10

Outras Manipulações Sistemáticas

As alterações não se limitam a estes dois exemplos. A TNM exibe um padrão de manipulação para se adequar a todo o espectro da sua teologia:

·      O termo grego staurós ("cruz") é consistentemente traduzido como "estaca de tortura" para se alinhar com a sua crença de que Jesus não foi crucificado numa cruz.10

·      As palavras hebraicas e gregas para o lugar dos mortos e do juízo (Sheol, Hades, Geena) nunca são traduzidas como "inferno", para apoiar a sua doutrina do aniquilacionismo (a cessação da existência para os ímpios).5

·      A palavra grega parousia ("vinda", "chegada") é traduzida como "presença" para apoiar a sua doutrina de que Cristo regressou invisivelmente em 1914.5

A tabela seguinte ilustra a natureza sistemática destas alterações e o seu impacto teológico:

Versículo

Tradução Padrão (ARA)

Tradução do Novo Mundo (TNM)

Análise da Alteração e Impacto Teológico

João 1:1c

"...e o Verbo era Deus."

"...e a Palavra era [um] deus."

Nega a plena divindade de Cristo, rebaixando-O a uma divindade menor, em linha com a heresia ariana.

Colossenses 1:16

"...nele foram criadas todas as coisas..."

"...por meio dele todas as [outras] coisas foram criadas..."

A inserção de "[outras]" transforma Cristo de Criador soberano em um agente criado, minando a Sua eternidade e poder.

Tito 2:13

"...nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus,"

"...do grande Deus e do Salvador, Cristo Jesus,"

A TNM insere um artigo para separar "Deus" de "Salvador, Cristo Jesus", obscurecendo uma clara atribuição de divindade a Jesus.

Hebreus 1:8

"Mas, a respeito do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre..."

"Mas, com referência ao Filho, ele diz: ‘Deus é o seu trono para todo o sempre...’"

Altera a vocação direta de "ó Deus" para o Filho, transformando Deus no "trono" do Filho, uma tradução gramaticalmente forçada para evitar chamar Jesus de Deus.

 

 

2. O Corpo Governante como Autoridade Final

A STV ensina que seus seguidores não podem compreender a Bíblia corretamente sem a orientação das publicações da Torre de Vigia, produzidas pelo "Escravo Fiel e Discreto", o Corpo Governante.⁵ Isso cria uma dependência total da organização, efetivamente colocando as palavras de homens acima da própria Escritura e contradizendo a clareza da mensagem da salvação para todo leitor sincero.

Texto da Revista A Sentinela (Edição de Estudo), 15 de julho de 2013

Título do artigo: “Quem é realmente o escravo fiel e discreto?”

O artigo analisa a passagem de Mateus 24:45-47 e esclarece quem é o "escravo", quem são os "domésticos" e o que é o "alimento".

Quem é o escravo?

O artigo conclui que o "escravo" não se refere a todos os cristãos ungidos na Terra, mas a um grupo específico que forma o Corpo Governante.

Parágrafo 17: "O contexto da ilustração do escravo fiel e discreto mostra que ela começou a se cumprir não na descida do espírito santo no Pentecostes de 33 EC, mas neste tempo do fim. (...) O escravo é composto do pequeno grupo de irmãos ungidos que servem na sede mundial durante a presença de Cristo. Esse grupo constitui o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. "

Quem são os "domésticos"?

Os "domésticos" são todos aqueles que recebem o alimento espiritual, ou seja, todas as Testemunhas de Jeová.

Parágrafo 19: "Quem, então, são os domésticos? Em poucas palavras, são os que são alimentados. No primeiro século, todos os cristãos eram domésticos; hoje, também. Assim, tanto o grupo dos ungidos como a grande multidão das outras ovelhas compõem os domésticos. (João 10:16) Ambos os grupos recebem o oportuno alimento espiritual preparado pelo escravo."

A designação em 1919

O artigo reafirma a crença de que Jesus inspecionou e designou esse "escravo" em 1919 para cuidar de seus bens.

Parágrafo 13: "A história mostra que, em 1919, dois anos depois de ter começado a inspecionar os que professavam ser seus seguidores, Cristo encontrou um pequeno grupo de estudantes da Bíblia ungidos que estava dando alimento no tempo apropriado. (...) Ele os designou sobre todos os seus bens."

Parágrafo 22 (em parte): "Concluímos que o escravo fiel e discreto é um pequeno grupo de irmãos ungidos que servem como Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Eles têm a enorme responsabilidade de supervisionar a obra do Reino e de preparar e distribuir o alimento espiritual durante a presença de Cristo."

A Sentinela de 1 de agosto de 1982, página 27, parágrafo 12, no artigo "A Unidade Cristã — Como é Mantida?", é o seguinte:

"Portanto, a Bíblia é um livro de organização e pertence à congregação cristã como organização, não a indivíduos, por mais sinceros que creiam ser em poder interpretar a Bíblia. Por esta razão, a Bíblia não pode ser devidamente entendida sem se ter em mente a organização visível de Jeová."

A doutrina apresenta que a compreensão correta da Bíblia está intrinsecamente ligada à "organização visível de Jeová" (o termo que usam para se referir à estrutura organizacional liderada pelo Corpo Governante).

A implicação lógica dentro da teologia das Testemunhas de Jeová: se alguém não pode entender a Bíblia corretamente sem a organização, e o entendimento correto é necessário para a salvação, então, seguir a orientação da organização se torna um requisito para a vida eterna.

É importante notar que a linguagem usada nas publicações é frequentemente de forte expectativa e sugestão, em vez de uma declaração dogmática e inequívoca.


II. A Doutrina de Deus: A Rejeição da Trindade

O ponto central da divergência teológica reside na doutrina da Trindade. As Testemunhas de Jeová rejeitam veementemente a crença em um só Deus subsistente em três Pessoas coeternas e coiguais: Pai, Filho e Espírito Santo. Em seus escritos, chegam a afirmar:

"Satanás deu origem à doutrina da trindade."⁶ "Ninrode casou-se com sua mãe Semíramis, e assim, num sentido, ele é seu próprio pai e seu próprio filho. Aqui está a origem da doutrina da trindade."⁷

Essa visão é, na verdade, uma ressurreição da antiga heresia do Arianismo, condenada no Concílio de Niceia em 325 d.C. Em contraste, a fé cristã histórica, como define o teólogo reformado Louis Berkhof, é essencialmente trinitária:

"A Igreja Cristã confessa a sua fé num Deus triúno. Ela crê que o único, verdadeiro e vivo Deus é um em essência ou substância, mas existe em três Pessoas."⁸

A Bíblia revela essa unidade na pluralidade desde o Antigo Testamento (Gênesis 1:26; Isaías 48:16) e a torna explícita no Novo, como no batismo de Jesus (Mateus 3:16-17) e na Grande Comissão (Mateus 28:19), onde o batismo é ordenado "em nome [singular] do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo."

A tabela a seguir demonstra como atributos divinos são aplicados às três Pessoas da Trindade nas Escrituras:

Atributo

O Pai

O Filho

O Espírito

Onipresente

Jeremias 23:24

Efésios 1:20-23

Salmos 139:7

Onipotente

Gênesis 17:1

Apocalipse 1:8

Romanos 15:19

Onisciente

Atos 15:18

João 21:17

1 Coríntios 2:10

Criador

Gênesis 1:1

João 1:3

Jó 33:4

Eterno

Romanos 16:26

Apocalipse 22:13

Hebreus 9:14

 


III. A Pessoa de Cristo: Um Messias Reduzido a Criatura

Como consequência da negação da Trindade, a Cristologia das Testemunhas de Jeová reduz Jesus a um ser criado. Eles ensinam que:

"Ele não era Jeová Deus, mas estava ‘existindo na forma de Deus’. Como assim? Ele era uma pessoa espiritual... poderoso, mas não todo-poderoso como o é Jeová Deus... foi o primeiro filho que Jeová Deus trouxe à existência."⁹

Esta doutrina, que identifica Jesus como o Arcanjo Miguel em sua existência pré-humana, é frontalmente contrária ao testemunho bíblico sobre a plena divindade de Cristo. As Escrituras afirmam que Cristo é:

·      Chamado de Deus: Tomé o confessa como "Senhor meu e Deus meu!" (João 20:28), e o Pai se dirige a Ele dizendo: "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre" (Hebreus 1:8). Paulo o chama de "nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus" (Tito 2:13).

·      Possuidor de Atributos Divinos: Ele é eterno (Miquéias 5:2; João 8:58), onipotente (Mateus 28:18) e o Criador de todas as coisas (João 1:3; Colossenses 1:16).

·      Digno de Adoração: Os anjos são ordenados a adorá-Lo (Hebreus 1:6), algo devido somente a Deus (Apocalipse 22:8-9).

A divindade de Cristo não é um ponto teológico negociável. Como resume Wayne Grudem: "Se Jesus não é Deus, então não podemos ser salvos. Pois se Jesus não é Deus, ele não poderia ter suportado a pena pelos nossos pecados."¹⁰ A infinita ofensa do pecado contra um Deus infinito requer um sacrifício de valor infinito, algo que somente o próprio Deus encarnado poderia oferecer.


IV. O Espírito Santo: Uma Pessoa Divina ou Uma Força Impessoal?

De forma consistente com sua teologia, as Testemunhas de Jeová negam a personalidade e a divindade do Espírito Santo, considerando-o meramente a "força ativa" de Jeová, uma energia impessoal como a eletricidade.

No entanto, as Escrituras atribuem ao Espírito Santo todas as características de uma pessoa:

·      Ele possui intelecto: "perscruta... as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2:10-11).

·      Ele possui vontade: distribui os dons "como quer" (1 Coríntios 12:11).

·      Ele possui emoções: pode se "entristecer" (Efésios 4:30).

·      Ele realiza ações pessoais: ensina (João 14:26), testifica (João 15:26), guia (Romanos 8:14) e intercede (Romanos 8:26).

A passagem de Atos 5:3-4 é crucial: mentir ao Espírito Santo é explicitamente equiparado a mentir a Deus, demonstrando Sua divindade e personalidade. O teólogo R.C. Sproul enfatiza que o Espírito Santo "é uma Pessoa que tem uma mente, que tem uma vontade, que tem afeições. Ele é Aquele que nos regenera, que nos santifica, que nos consola."¹¹


V. A Doutrina da Salvação: Graça ou Obras e Lealdade?

A soteriologia (doutrina da salvação) da STV é a antítese do Evangelho da graça. A salvação não é um dom gratuito, mas um objetivo a ser alcançado através de um sistema de obras e lealdade inquestionável à organização. A vida eterna depende do proselitismo de porta em porta e da obediência ao Corpo Governante.

Além disso, eles propõem um sistema de duas classes: uma elite de 144.000 "ungidos" que irão para o céu, e a vasta maioria, a "grande multidão", que espera viver para sempre num paraíso terrestre e não tem Cristo como seu mediador direto.

Em contraste direto, a teologia evangélica e reformada defende a salvação resumida nos Cinco Solas da Reforma:

·      Sola Gratia (Somente pela Graça): A salvação é um dom totalmente imerecido de Deus.

·      Sola Fide (Somente pela Fé): Este dom é recebido unicamente pela fé em Cristo.

·      Solus Christus (Somente Cristo): A Sua obra na cruz é a base única e suficiente para a salvação.

A clareza de Efésios 2:8-9 desmantela o sistema da STV: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie."


VI - Erros de datas

1. Para 1914 (Fim dos Tempos dos Gentios)

A crença não era exatamente a "volta de Jesus" (pois acreditavam que sua presença ou parousia já havia começado de forma invisível em 1874, um entendimento que foi ajustado mais tarde), mas sim que 1914 marcaria o fim dos "Tempos dos Gentios" e o início da grande tribulação.

Fonte: Zion's Watch Tower and Herald of Christ's Presence (Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo), de 15 de janeiro de 1894, página 1677 (numeração da compilação de volumes).

O texto nesta referência não está em um único parágrafo que diz "o fim virá em 1914", mas o contexto do artigo e de outros escritos da época aponta para essa data como o clímax. Um exemplo do raciocínio está na edição de julho de 1894, página 1677 (reimpressão), que afirma:

Texto (traduzido do inglês): "Não vemos razão para mudar os números — nem poderíamos mudá-los se quiséssemos. Eles são, cremos, datas de Deus, não nossas. Mas lembrem-se que o fim de 1914 não é a data para o começo, mas para o fim do tempo de angústia." ("We see no reason for changing the figures—nor could we change them if we would. They are, we believe, God's dates, not ours. But bear in mind that the end of 1914 is not the date for the beginning, but for the end of the time of trouble.")

2. Para 1925 (Ressurreição dos Patriarcas)

A expectativa para 1925 não era a volta de Jesus, mas o início da ressurreição terrestre dos "príncipes" ou homens fiéis do passado (como Abraão, Isaque e Jacó), o que marcaria o início visível do Reino de Deus na Terra.

Fonte: A Sentinela de 1º de março de 1923, página 106 (edição em inglês, encadernada).

O artigo discute o cumprimento do tipo e antítipo da lei do Jubileu.

Texto (traduzido do inglês): "A data de 1925 é ainda mais distintamente indicada pelas Escrituras porque é fixada pela lei de Deus a Israel. (...) Visto que o grande ciclo do Jubileu consiste de 70 jubileus de 50 anos cada, ou 3.500 anos, e que esse período começa em 1575 a.C., ele deve terminar em 1925 d.C. Nesta data, o tipo termina e o grande antítipo deve começar. Que se deve esperar, portanto? No tipo devia haver uma restauração completa; portanto, o grande antítipo deve marcar o início da restauração de todas as coisas. A principal coisa a ser restaurada é a raça humana à vida; e visto que a Bíblia distintamente declara que Abraão, Isaque, Jacó e outros fiéis do passado serão os primeiros a receber esse favor, podemos esperar que 1925 testemunhará o retorno desses homens fiéis da condição de morte, sendo ressuscitados e completamente restaurados à perfeita humanidade e tornando-se os representantes visíveis e legais da nova ordem de coisas na terra."

3. Para 1975 (Fim de 6.000 anos de história humana)

A expectativa para 1975 foi construída sobre a ideia de que 6.000 anos da existência humana terminariam naquele ano, dando início ao sétimo período de mil anos (o reinado de Cristo), análogo ao sábado de descanso de Deus.

Fonte: A Sentinela de 15 de fevereiro de 1969, página 115 (parágrafo 15, edição em português, encadernada).

O texto usa uma linguagem sugestiva, criando um forte senso de urgência e possibilidade, embora inclua ressalvas.

Texto: "Significa isso que o sétimo dia de mil anos de Deus começa em 1975? Poderia ser. Poderia ser. Todas as coisas são possíveis a Deus. Significa que o Armagedom vai ser acabado, com Satanás amarrado, até 1975? Poderia ser. Poderia ser. Mas, nós não estamos dizendo isso. Todas as coisas são possíveis a Deus. Mas, não estamos dizendo isso. Que ninguém seja específico em declarar o que vai acontecer entre agora e 1975. Mas, a coisa principal é esta, caros amigos: O tempo é curto. O tempo está-se esgotando, não resta dúvida sobre isso."

Esses trechos mostram como as expectativas foram construídas em cada período, usando diferentes linhas de raciocínio bíblico e cronológico para apontar para datas específicas com grande significado escatológico.

Os ajustes dos erros

A forma como a organização das Testemunhas de Jeová lida com as expectativas não cumpridas é um aspecto central de sua teologia e história. Eles não se referem a esses eventos como "erros proféticos", mas sim como "ajustes" de entendimento ou "expectativas equivocadas" baseadas num zelo sincero.

A correção é explicada através de uma combinação de conceitos teológicos e justificativas. Aqui estão os principais métodos utilizados em suas publicações para explicar essas correções:

1. O Conceito da "Luz Progressiva" (A Principal Explicação)

Esta é a base teológica para todas as mudanças doutrinárias. Eles aplicam o texto de Provérbios 4:18: "Mas a vereda dos justos é como a luz clara que clareia mais e mais até o dia estar firmemente estabelecido."

·      Como aplicam: Eles ensinam que Jeová não revela toda a verdade de uma só vez. A compreensão das Escrituras é um processo gradual. Portanto, os entendimentos antigos não eram "errados", mas sim uma visão mais "escura" ou inicial da verdade. Os "ajustes" posteriores são vistos como um "aumento da luz", ou seja, uma revelação mais clara e precisa da vontade de Deus.

Exemplo em publicação (sobre o entendimento geral de doutrinas):

A Sentinela, 15 de fevereiro de 2017, no artigo "Adore a Deus em espírito e em verdade", explica: "No primeiro século, os cristãos não entendiam todos os detalhes sobre o Reino. O mesmo acontece nos nossos dias. (...) Nós estamos dispostos a esperar pacientemente que a luz da verdade sobre os propósitos de Jeová fique cada vez mais clara."

2. Reinterpretação do Significado da Data (O Caso de 1914)

Em vez de descartar uma data importante, eles frequentemente redefinem seu significado. O caso de 1914 é o exemplo mais bem-sucedido dessa abordagem.

·      O que se esperava: O fim do "tempo dos gentios", que levaria ao fim do sistema mundial e à glorificação da Igreja.

·      Como foi corrigido: Quando o fim visível não veio, o entendimento foi "ajustado". A data de 1914 foi mantida, mas seu significado mudou: em vez de ser o fim do mundo, tornou-se o ano em que Jesus começou a reinar invisivelmente no céu. Assim, 1914 passou a marcar o começo dos "últimos dias", e não o seu fim.

3. Atribuição ao Zelo Humano e à expectativa ansiosa

Para datas como 1925 e 1975, que não puderam ser facilmente reinterpretadas, a explicação se concentra no fator humano. A liderança e os membros são descritos como excessivamente zelosos e ansiosos, "correndo na frente" da orientação de Jeová.

·      Como explicam: As publicações admitem o desapontamento, mas atribuem o erro a expectativas humanas prematuras, e não a uma falha da parte de Deus ou de seu "canal de comunicação".

Exemplo em publicação (sobre 1975): O livro Testemunhas de Jeová — Proclamadores do Reino de Deus (1993), na página 633, aborda a questão de 1975 de forma cândida:

"Sem dúvida, declarações feitas naquela época abriram o caminho para as expectativas que surgiram em torno da data de 1975. (...) Infelizmente, porém, junto com essas informações de alerta, foram publicadas outras declarações que davam a entender que a realização das esperanças naquele ano era mais uma probabilidade do que uma mera possibilidade."

O mesmo livro, mais adiante, cita uma Sentinela de 1980 que admitiu:

"Aprende-se com os erros do passado. É preciso ter mais cuidado no futuro, para que nossas publicações não deem a entender que certos acontecimentos se darão em uma data específica."

4. O Evento Como um "Teste de Fé" ou "Peneiramento"

Outra explicação é que esses períodos de desapontamento servem como um teste para separar os verdadeiros fiéis daqueles com motivações erradas.

·      A lógica: Aqueles que serviam a Deus apenas por causa de uma data se afastariam, enquanto os que tinham uma fé genuína e lealdade à organização permaneceriam. Isso transforma um evento negativo (uma previsão falha) em um processo positivo de purificação do povo de Deus.

Em resumo, as correções são feitas através de um sistema que permite mudanças doutrinárias sem invalidar a autoridade da liderança. As falhas são atribuídas à imperfeição humana e à natureza progressiva da revelação divina, mantendo a crença de que o "Corpo Governante" continua a ser o único canal que Deus usa para guiar seu povo.


VII - A questão do sangue

1. A Sentinela de 1º de fevereiro de 2011, p. 27

Esta página faz parte da seção "Perguntas dos Leitores". O artigo discute procedimentos médicos que envolvem o uso do próprio sangue do paciente. Ao estabelecer a base para a sua decisão, o texto reafirma a proibição fundamental sobre o sangue.

Texto: "Para as Testemunhas de Jeová, a questão fundamental é bem simples: a Bíblia ordena que nos abstenhamos de sangue. (Atos 15:20; 21:25) O que isso significa? Pense no seguinte: se um médico lhe dissesse para se abster de álcool, você não o injetaria nas suas veias, não é mesmo? Da mesma forma, abster-se de sangue significa não o introduzir em nosso corpo de modo algum. Assim, essa ordem bíblica descarta a transfusão de sangue total ou de qualquer um dos seus componentes primários (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e plasma)."

Análise: Este trecho mostra claramente a interpretação de que o mandamento bíblico para "abster-se de sangue" não se limita a não o comer, mas inclui a proibição de introduzi-lo no corpo por qualquer meio, como as transfusões.

2. A Sentinela de 1º de março de 1989, pp. 30-31

Esta edição, também na seção "Perguntas dos Leitores", aborda diretamente a seriedade da questão e porque a recusa em se arrepender de ter tomado sangue leva à desassociação (excomunhão).

Texto (página 30): "Considere a situação em que um cristão, apesar de conselho e ajuda, aceita uma transfusão de sangue. [...] A pessoa que deliberada e impenitentemente aceita sangue demonstra por suas ações que não mais deseja viver segundo os padrões de Deus. Se ela rejeita a Deus e seu arranjo, não é apropriado que continue a ser membro da congregação cristã. [...] Por outro lado, que dizer se um cristão aceitou uma transfusão de sangue por ter ficado enfraquecido e sob extrema pressão? Depois, porém, ele lamenta o que fez e se arrepende. Neste caso, sua contrição e arrependimento sinceros seriam levados em conta."

Análise: Este texto é inequívoco ao tratar a aceitação de uma transfusão de sangue como um pecado grave. Ele estabelece que, se a pessoa não se arrepender, ela se dissocia da congregação por suas próprias ações, mostrando que a obediência a esse mandamento é um requisito para ser uma Testemunha de Jeová.

A Base Bíblica Para a Doutrina

A posição das Testemunhas de Jeová baseia-se principalmente em três passagens bíblicas, que elas interpretam como uma lei divina universal e perpétua sobre a santidade do sangue:

1.  Gênesis 9:4: Após o Dilúvio, Deus permitiu que Noé comesse carne, mas ordenou: "Somente não comam a carne com seu sangue".

2.  Levítico 17:10-14: A Lei Mosaica proibia o consumo de sangue, afirmando que "a vida da carne está no sangue".

3.  Atos 15:28, 29: O decreto dos apóstolos para os cristãos gentios ordenou que 'se abstivessem de coisas sacrificadas a ídolos, de sangue, do que foi estrangulado e de imoralidade sexual'.

Elas consideram o mandamento em Atos como uma ordem tão fundamental quanto a de evitar a idolatria e a imoralidade sexual, aplicando-a, portanto, ao procedimento médico moderno da transfusão de sangue.

O ensinamento delas é que a morte é um estado de total inconsciência, como um sono sem sonhos, até que Deus ressuscite a pessoa no futuro.

Refutação: Nada de fora que entra na boca contamina espiritualmente.

Na teologia reformada, as proibições bíblicas sobre o consumo de sangue são compreendidas dentro de seu contexto teológico e pactual, e não como uma lei dietética perpétua para os cristãos. Consequentemente, a proibição de transfusões de sangue, que é uma inferência moderna, não encontra suporte nesta tradição teológica. A chave é a distinção entre a lei cerimonial do Antigo Testamento e a lei moral, e a compreensão da obra consumada de Cristo.

As proibições originais, como em Gênesis 9:4 e Levítico 17:11 ("Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma"), tinham um propósito tipológico e cerimonial. O sangue representava a vida, que pertencia a Deus, e era o elemento central do sistema sacrificial para a expiação dos pecados. Abster-se do sangue era um constante lembrete de que o pecado exigia a morte (o derramamento de vida) e apontava para o sacrifício final que estava por vir.

Com a vinda de Cristo, o sistema sacrificial foi cumprido e tornado obsoleto. Hebreus 9:12 afirma que Cristo entrou no Santo dos Santos "não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, tendo obtido eterna redenção". O sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus, cumpriu perfeitamente tudo o que os sacrifícios de animais simbolizavam. Assim, a base teológica para a proibição cerimonial de ingerir sangue foi removida. O próprio Jesus, conforme Marcos 7:19, "considerou puros todos os alimentos".

O teólogo Wayne Grudem, em sua "Teologia Sistemática", ao abordar as leis do Antigo Testamento, explica que as leis cerimoniais não são mais obrigatórias para os crentes do Novo Testamento, pois seu propósito de apontar para Cristo foi cumprido. A proibição do sangue se enquadra nesta categoria.

A passagem mais desafiadora, Atos 15:29, onde o Concílio de Jerusalém instrui os gentios a se absterem de "coisas sufocadas e do sangue", é interpretada pela maioria dos teólogos reformados não como uma lei moral eterna, mas como uma concessão pastoral. Como João Calvino explica em seus comentários, o objetivo era promover a paz e a unidade na igreja primitiva. Para os crentes judeus, o consumo de sangue era profundamente ofensivo. A recomendação era uma questão de sensibilidade e amor ao próximo, para não criar um "tropeço" (conforme o princípio de Romanos 14:14-15), e não a instituição de uma nova lei dietética universal.

Quanto às transfusões de sangue, a teologia reformada as vê como uma questão completamente distinta. R.C. Sproul e outros eticistas reformados enfatizam a diferença entre comer sangue como alimento e receber uma transfusão como um procedimento médico. Uma transfusão não é um ato de alimentação, mas um transplante de tecido líquido para preservar a vida, que é um dom de Deus. Rejeitar um procedimento que salva vidas com base em uma lei cerimonial cumprida seria aplicar erroneamente as Escrituras e desconsiderar o mandato de cuidar da vida.

Portanto, a perspectiva reformada afirma a liberdade do cristão em Cristo sobre as leis dietéticas do Antigo Testamento e vê a transfusão de sangue como um meio legítimo e moralmente bom de preservar a vida que Deus nos deu.

 

“Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e, depois, é lançado em lugar escuso? Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem”. Mateus 15:17,18.

“Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina”. Marcos 7:15

“Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu” (Romanos 14:2-3).


VIII - O sono da alma e recriação

Texto de A Sentinela, 15 de maio de 1995, p. 5

O artigo nesta página, intitulado "O que acontece na morte?", explica a condição dos mortos com base na Bíblia.

Texto (parágrafo 5): "Portanto, o conceito bíblico é simples e coerente. Não somos criados com uma alma imortal. Ao morrermos, simplesmente deixamos de existir. A morte é o contrário da vida. Os mortos não veem, não ouvem, nem pensam. O espírito, ou força de vida, que Deus nos deu por ocasião da nossa concepção, abandona o corpo. (Salmo 104:29) Por isso, a Bíblia diz que os mortos ‘não estão cônscios de absolutamente nada’. — Eclesiastes 9:5."

Análise do Texto:

·      Este parágrafo é muito direto ao afirmar que, segundo a sua interpretação da Bíblia, a morte é um estado de inexistência e inconsciência.

·      Ele nega explicitamente a doutrina da "alma imortal", que é a base da crença na vida após a morte na maioria das outras religiões.

·      A citação de Eclesiastes 9:5 é fundamental para a doutrina delas, pois afirma que "os mortos (...) não estão cônscios de absolutamente nada".

A Esperança na Ressurreição

É crucial entender que, para as Testemunhas de Jeová, a negação de uma alma imortal não significa o fim de toda a esperança. Pelo contrário, a esperança delas está centrada na promessa bíblica da ressurreição. Elas acreditam que Deus, em seu devido tempo, trará de volta à vida a maioria das pessoas que já morreram, para viverem numa Terra paradisíaca (João 5:28, 29; Atos 24:15).

Portanto, a crença delas pode ser resumida da seguinte forma:

1.  No momento da morte: A pessoa deixa de existir. Não há alma, espírito ou consciência que sobreviva.

2.  No futuro: Deus usará seu poder para recriar (ressuscitar) a pessoa com a mesma identidade e personalidade, dando-lhe uma nova vida.

Assim, elas acreditam em "vida após a morte", mas não de forma imediata e contínua, e sim através de uma futura intervenção divina.

Refutação

Jesus contou uma parábola que explica o lugar das almas (Lc 16.19-31). A parábola do Rico e Lázaro. Após morto, o destino de cada um é diferente. Lázaro foi para o seio de Abraão e o rico para o Inferno. Lázaro recebe recompensa e o Rico recebe punição e de forma consciente. Só existem estes dois destinos descritos na Bíblia para a alma depois da morte física. Não há espaço para purgatório ou sono da alma. A alma, segundo o texto, continua em estado de consciência.

Podemos olhar para o que disse Jesus ao ladrão na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43). Os Testemunhas de Jeová e Adventistas mudam a interpretação desse texto para encaixarem em suas doutrinas (em verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso). Porém, uma simples interpretação de texto deixa claro que não há razão para que a pessoa que esteja falando precise falar do dia que fala (hoje). Como poderia alguém dizer que falaria “amanhã”? Isso não possui razão lógica e o texto não diz isto. Jesus estava dizendo para o ladrão que naquele mesmo dia estaria no Paraíso. O ladrão pediu para Jesus lembrar dele no futuro e a resposta de Jesus é que seria naquele mesmo dia.

Na transfiguração, onde Moisés e Elias foram vistos conversando com Jesus (Mt 17.1-8). Eles não estavam dormindo. Paulo tinha o desejo de partir e estar com Cristo. Para ele a morte o levaria, imediatamente, ao encontro de Jesus. Paulo não teria interesse de morrer e ficar dormindo. Não!! Ele tinha certeza que a morte o levaria ao encontro de Jesus (Fp 1.21- 23). O Apóstolo também afirma que preferia deixar o corpo e seu espírito ir morar com o Senhor. 2 Co 5:8 “Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor”. E ele sabia do que estava falando, pois esteve pessoalmente no Paraíso (2Co 12.4).

Apocalipse 6.9-11: Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos pela palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram. Apocalipse 7.14-15: “ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo”. João viu as almas dos crentes mortos no céu. Elas estão lá conscientes, descansando e esperando o último dia. Não faz sentido pensar que estivessem dormindo na sepultura.

O estado em que estão as almas depois da morte, seja o céu ou o Inferno, é chamado de intermediário porque não corresponde ao local definitivo. Estas almas aguardam o dia da ressurreição e julgamento. Daniel já dizia: Dn 12:2 diz: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno”. Após isso, os perdidos irão para o Lago de Fogo (Ap 20.15), e os salvos para o Novo céu e a nova terra (Ap 21.1).

Deus não criou o ser humano para viver sem corpo. Para o crente, a doutrina bíblica do Estado Intermediário é uma grande bênção. Ela nos assegura que o crente não precisará ficar dormindo, esperando pelo consolo.


IX - O inferno não existe. Aniquilação dos ímpios

Texto de "Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra", pp. 81-82

Na página 81, o livro começa a abordar a doutrina do inferno de fogo:

Texto (p. 81, parágrafo 15): "No entanto, milhões de pessoas foram ensinadas que os iníquos vão para um inferno de fogo, para serem atormentados para sempre. É verdade isso? O próprio conceito de se atormentar pessoas com fogo é detestável para Jeová Deus. Por exemplo, quando os israelitas, em imitação de povos vizinhos, começaram a queimar seus filhos no fogo, Deus condenou este ato, dizendo: ‘Coisa que eu não lhes ordenara e que não me subira ao coração.’ (Jeremias 7:31) Visto que tal prática é detestável para Deus, será que ele manteria um inferno de fogo e atormentaria pessoas para sempre nele?"

Na página 82, o texto continua a argumentar contra essa doutrina:

Texto (p. 82, parágrafos 16-17): "16. ‘Mas a palavra “inferno” não se encontra na Bíblia?’ talvez pergunte. Sim, encontra-se. Em muitas traduções da Bíblia, a palavra hebraica ‘Seol’ e a palavra grega ‘Hades’ são traduzidas ‘inferno’. Mas, o que significam realmente estas palavras? (...) A Bíblia mostra que tanto Seol como Hades não se referem a um lugar de tormento, mas à sepultura comum da humanidade. 17. E que dizer da palavra grega ‘Geena’? Em algumas traduções da Bíblia, ela é traduzida ‘inferno’. Na realidade, Geena era o nome do depósito de lixo fora dos muros de Jerusalém. Jesus usou o fogo que queimava continuamente neste depósito de lixo como símbolo apropriado de destruição completa, da qual não há ressurreição. De modo que ele mostrou que os que pecam deliberadamente e sem arrependimento serão destruídos."

Análise e Resumo da Doutrina Apresentada:

1.  Deus Odeia a Crueldade: O texto argumenta que a ideia de queimar pessoas é detestável para Deus, citando Jeremias 7:31 como prova de que tal pensamento "não lhe subira ao coração".

2.  Significado de "Inferno" (Seol/Hades): As palavras bíblicas frequentemente traduzidas como "inferno" (Seol em hebraico e Hades em grego) não se referem a um lugar de tormento, mas simplesmente à sepultura comum da humanidade, um lugar de inconsciência.

3.  Significado de "Geena": O termo "Geena", também traduzido como "inferno", era uma referência ao Vale de Hinom, um local físico fora de Jerusalém usado como depósito de lixo, onde o fogo era mantido para destruir o lixo. Jesus usou a Geena como um símbolo de destruição eterna e completa, não de tormento consciente.

4.  O Castigo Final: Para as Testemunhas de Jeová, o castigo final para os pecadores impenitentes não é a tortura eterna, mas a "segunda morte" (Apocalipse 21:8), que é a aniquilação ou a inexistência, da qual não há esperança de ressurreição.

Refutação: A Terrível Realidade do Inferno: Uma Perspectiva Reformada

Na teologia reformada, o inferno é apresentado não como uma metáfora, mas como uma realidade solene e terrível, um lugar literal de punição eterna para os ímpios. Longe de ser um reino governado por Satanás, o inferno é a manifestação final e assustadora da justiça perfeita e da ira santa de Deus contra o pecado.

O teólogo R.C. Sproul, em sua obra "A Santidade de Deus", argumenta que a nossa relutância em aceitar a doutrina do inferno provém de uma falha em compreender a santidade absoluta de Deus e a gravidade de nossa ofensa contra Ele. O inferno revela que Deus é justo e não pode, por Sua própria natureza, deixar o pecado impune. É o lugar onde a Sua justiça é plenamente satisfeita sobre aqueles que rejeitaram a provisão de Sua misericórdia. Sproul destaca que o castigo é consciente e eterno, uma consequência direta da rebelião contra um Deus eterno.

Ecoando essa perspectiva, Joel Beeke, em obras como "Teologia Puritana: Doutrina para a Vida", explica que os puritanos viam o inferno como um lugar de tormentos duplos: a pena de perda (a remoção da presença favorável de Deus e de todo o bem) e a pena de sentido (o sofrimento ativo da consciência e do corpo). A seriedade com que tratavam o inferno alimentava a urgência de sua pregação e a sua profunda gratidão pela cruz de Cristo.

John Piper enfatiza a eternidade do inferno como uma demonstração do valor infinito da glória de Deus. Pecar contra um Ser de majestade infinita incorre em uma dívida infinita, que exige uma punição eterna. Em passagens como Mateus 25:46, Jesus fala de um "castigo eterno", usando a mesma palavra grega (aionios) para descrever a duração da punição dos ímpios e da vida dos justos, indicando que ambos são sem fim.

A realidade do inferno, portanto, não é um tópico secundário, mas central para a compreensão do evangelho na perspectiva reformada. É o pano de fundo sombrio que faz a luz da graça de Deus em Jesus Cristo brilhar com um esplendor inigualável.

Versículos Bíblicos de Referência:

  • Mateus 10:28 (ARA): "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo."
  • Mateus 25:41, 46 (ARA): "Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. ... E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna."
  • Marcos 9:47-48 (ARA): "E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois, seres lançado no inferno, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga."
  • 2 Tessalonicenses 1:9 (ARA): "Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder."
  • Apocalipse 20:15 (ARA): "E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo."

X – Doutrinas estranhas

(a) O Diabo foi o criador da mosca

Fonte: The Golden Age (A Idade de Ouro), 19 de dezembro de 1923, p. 163, em inglês. O artigo discute a mosca doméstica, descrevendo-a como uma criatura suja e perigosa.

Texto Original (em inglês): "There is no doubt that Satan is the original designer of the housefly, which has 4,000 separate and distinct lenses in each eye... Its feet are so constructed that it can walk on a polished surface upside down... It is a germ-carrier of the first order. Verily, the fly is a child of Beelzebub, the lord of filth."

Tradução: "Não há dúvida de que Satanás é o projetista original da mosca doméstica, que tem 4.000 lentes separadas e distintas em cada olho... Suas patas são construídas de tal forma que ela pode andar de cabeça para baixo em uma superfície polida... É uma portadora de germes de primeira ordem. Em verdade, a mosca é uma filha de Belzebu, o senhor da imundície."

Contexto Atual: Esta foi uma especulação publicada na revista A Idade de Ouro, conhecida por seus artigos variados sobre ciência e natureza, que nem sempre refletiam a doutrina oficial. A crença atual é a de que toda a criação é obra de Deus.


(b) Transplantes de órgãos ser o mesmo que comer carne humana (canibalismo)

Fonte: The Watchtower (A Sentinela), 15 de novembro de 1967, p. 702, em inglês. (Corresponde à edição em português de 1/6/1968). A pergunta era se transplantes eram biblicamente aceitáveis.

Texto Original (em inglês): "Those who submit to such operations are thus living on the flesh of another human. That is cannibalistic. However, in allowing man to eat animal flesh Jehovah God did not grant permission for humans to try to perpetuate their lives by cannibalistically taking into their bodies human flesh, whether chewed or in the form of whole organs or body parts taken from others."

Tradução: "Aqueles que se submetem a tais operações estão, portanto, vivendo da carne de outro humano. Isso é canibalismo. No entanto, ao permitir que o homem comesse carne animal, Jeová Deus não concedeu permissão para que os humanos tentassem perpetuar suas vidas tomando canibalisticamente em seus corpos carne humana, seja mastigada ou na forma de órgãos inteiros ou partes do corpo tiradas de outros."

Contexto Atual: Esta posição foi mantida de 1967 a 1980. Em A Sentinela de 15 de março de 1980, a visão foi completamente revertida, e desde então os transplantes de órgãos são considerados uma questão de consciência pessoal.


(c) Pessoas seguiam ou não a Deus dependendo do formato do crânio

Fonte: The Watch Tower (A Torre de Vigia), 15 de março de 1913, pp. 84, 85 (numeração de volumes encadernados). O artigo discute frenologia, uma pseudociência popular na época.

Texto Original (em inglês): "Phrenology is not an exact science... Nevertheless, the location of the different faculties of the mind is fairly well established. In our pictures we have endeavored to show a head developing in the right direction and one in the wrong direction... Notice in the first head the high moral and intellectual qualities... In the second head... notice the contrast — how low the moral sentiments, veneration, etc."

Tradução: "A frenologia não é uma ciência exata... No entanto, a localização das diferentes faculdades da mente está razoavelmente bem estabelecida. Em nossas imagens, nos esforçamos para mostrar uma cabeça se desenvolvendo na direção certa e uma na direção errada... Observe na primeira cabeça as altas qualidades morais e intelectuais... Na segunda cabeça... observe o contraste — quão baixos os sentimentos morais, a veneração, etc."

Contexto Atual: Esta publicação refletia o interesse pessoal do então presidente, C. T. Russell, em teorias populares de sua época. A frenologia foi completamente desacreditada como ciência e nunca mais foi mencionada ou usada como base para qualquer ensinamento.


(d) Jesus curava com elétrons

Fonte: The Golden Age (A Idade de Ouro), 20 de dezembro de 1922, p. 177, em inglês. O artigo tentava explicar os milagres de Jesus sob a ótica da ciência da época.

Texto Original (em inglês): "The cures which Jesus and the apostles performed were all accomplished by the use of the life force, which may be properly termed electronic... In other words, Jesus understood perfectly the electronic principle of life, and it was by the use of this that he gave sight to the blind, hearing to the deaf, and life to the dead."

Tradução: "As curas que Jesus e os apóstolos realizaram foram todas efetuadas pelo uso da força vital, que pode ser devidamente chamada de eletrônica... Em outras palavras, Jesus entendia perfeitamente o princípio eletrônico da vida, e foi pelo uso deste que ele deu visão aos cegos, audição aos surdos e vida aos mortos."

Contexto Atual: Outro exemplo de especulação científica da revista A Idade de Ouro. A crença atual é que Jesus curava pelo poder do espírito santo de Deus, sem qualquer explicação pseudocientífica.


(e) A vacinação é um truque cruel de Satanás

Fonte: Consolation (Consolação), 31 de maio de 1939, p. 3, em inglês. A revista manteve uma forte posição antivacinação por várias décadas.

Texto Original (em inglês): "Vaccination is a direct violation of the everlasting covenant that God made with Noah after the flood... It is a cruel, satanic trick, and will have a bad end."

Tradução: "A vacinação é uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com Noé após o dilúvio... É um truque cruel e satânico, e terá um fim ruim."

Contexto Atual: Esta visão foi abandonada. Em A Sentinela de 15 de dezembro de 1952, a vacinação passou a ser considerada uma questão de decisão pessoal. Hoje, as Testemunhas de Jeová não têm nenhuma objeção à vacinação, tratando-a como uma escolha de saúde individual.

Conclusão: Um Chamado à Verdade

As doutrinas da Sociedade Torre de Vigia, quando examinadas à luz das Escrituras, apresentam um sistema teológico que se desvia em pontos cruciais e não negociáveis da fé cristã. A negação da Trindade, da plena divindade de Cristo e da personalidade do Espírito Santo, juntamente com a anulação do evangelho da graça, leva à conclusão de que se trata de "outro evangelho".

A tarefa do cristão é "batalhar diligentemente pela fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos" (Judas 3), defendendo a verdade com firmeza e compaixão, e permanecendo fiel à revelação de Deus em Sua Palavra infalível e na pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo, nosso grande Deus e Salvador.


Referências Bibliográficas e Notas de Rodapé

¹ A doutrina da STV sobre Cristo é funcionalmente idêntica ao Arianismo, uma heresia do século IV que ensinava que o Filho era a primeira e mais elevada criatura de Deus, mas não coeterno ou da mesma essência que o Pai.

² Sociedade Torre de Vigia. Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas.

³ Martin, Walter. O Império das Seitas. 8. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. Martin e outros estudiosos da gramática grega demonstram que a construção de João 1:1 enfatiza a natureza divina da Palavra, e não que Ele era um deus menor.

⁴ Sociedade Torre de Vigia. Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas.

⁵ Veja, por exemplo, a revista A Sentinela, 1º de agosto de 1982, p. 27, que argumenta a necessidade da organização para entender a Bíblia.

⁶ Sociedade Torre de Vigia. Seja Deus Verdadeiro, p. 81.

⁷ Russell, Charles Taze. Estudos das Escrituras.

⁸ Berkhof, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: LPC, 1990, p. 83.

⁹ Sociedade Torre de Vigia. Seja Deus Verdadeiro, pp. 34-35.

¹⁰ Grudem, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 448.

¹¹ Sproul, R.C. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999.


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