O Mito
do Cristão Autônomo e a Centralidade da Igreja
Um
fenômeno crescente no meio evangélico é o do "desigrejado": o crente
que, ao identificar erros em diversas congregações, conclui que o problema
reside na instituição da Igreja, e não em sua própria perspectiva. Essa postura
de hipercrítica paralisante o leva a um isolamento justificado por uma suposta
busca por "santidade" pura, inatingível em qualquer comunidade
terrena.
Essa
atitude, contudo, frequentemente mascara um profundo orgulho espiritual. O
desigrejado torna-se um fiscal da fé alheia, auditando sermões, liturgias e a
vida dos irmãos, não para edificar, mas para validar sua própria posição de
superioridade. O veredito "eu tenho razão" se torna mais importante
que a comunhão. Esse individualismo egoísta é a antítese do evangelho.
A
teologia bíblica refuta categoricamente essa autonomia espiritual por, no
mínimo, três razões fundamentais:
- A Igreja é a
Agente de Disciplina e Restauração: Cristo instituiu a
igreja local como a autoridade final em questões de disciplina e correção
fraterna (Mateus 18:17). Recusar-se a ouvir a igreja equivale a se
posicionar como "gentio e publicano". O crente sem igreja é um
crente sem submissão e sem liderança necessária para o tratamento de seus
próprios erros.
- A Igreja é o
Contexto dos Sacramentos: As ordenanças, como a
Ceia do Senhor, são atos corporativos. A instrução "fazei isto... em
memória de mim" (1 Coríntios 11:25) foi dada a um corpo reunido. A
participação nos sacramentos é um testemunho público da nossa pertença à
aliança comunitária, não um rito privado.
- A Igreja é o Campo
de Atuação dos Dons: Os dons do Espírito foram
concedidos "visando a um fim proveitoso" e para a
"edificação do corpo de Cristo" (1 Co 12:7; Ef 4:12). Um órgão
fora do corpo não apenas é inútil, como também morre. O cristão que não
serve a uma igreja local com seus talentos está, na prática, enterrando o
que Deus lhe deu para investir no Reino.
Em
última análise, a aversão à Igreja é uma questão cristológica. Cristo amou, se
entregou e santificou a Igreja para Si, e é essa Noiva que Ele virá buscar
(Efésios 5:25-27). Ter aversão à Noiva de Cristo e, ao mesmo tempo, clamar
intimidade com o Noivo é uma contradição teológica que exige um sério autoexame
sobre a natureza da própria conversão.
Que
Deus tenha misericórdia de nós e nos cure do orgulho que nos afasta de Sua
família.
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